Disco Voador

De uma forma ou de outra os amigos sempre se lembram da gente.

Uma de minhas amigas lembrou-se de mim por um motivo um tanto quanto inusitado. Tentarei explanar literariamente o motivo que a fez ligar para mim em plena noite de terça-feira de Carnaval, em Marataízes, uma bela praia brasileira:

Lá, pelas bandas da constelação do Cruzeiro do Sul, em meio a milhões de outros corpos celestes que, juntamente com a poeira cósmica compõe a nossa Via Láctea, aquela “coisa” chamou-lhe a atenção. Era um brilho excessivamente intenso para uma estrela. E piscava. E muito.

Ora vermelhos, ora azuis, ora amarelos, saiam raios intrigantes destacando a “coisa” das demais estrelas que pontilhavam de luzes o firmamento: Um OVNI! Concluiu.

Para alguém sugestionável aquele brilho seria, com certeza, proveniente de um OVNI. Existem muitas incógnitas, muitas contradições. A própria NASA é reticente e isso faz com que se dêem asas à imaginação.

Para compor a minha obra de ficção científica ENGEDRON, li alguns livros da NASA, agência espacial norte-americana e pude comprovar a imensidade de informações que, se jogadas em um terreno despreparado, pode gerar problemas. Como assimilar que existe no Universo mais de 100 bilhões de galáxias, classificadas pelo seu aspecto externo e sua geometria aparente, com formas elípticas, espirais ou irregulares, e que as galáxias maiores são formadas por 100 milhões de estrelas? Como entender que o que conseguimos ver a olho nu é uma parte ínfima do que se vê até mesmo com o Hubble, o mais possante e magnífico telescópio espacial da NASA e que era operado em Maryland, pois está em processo de desativação? E se considerarmos que o Hubble não consegue captar tudo o que existe no Universo? É uma dimensão acima do entendimento da maioria dos humanos se considerarmos que as galáxias, que são formadas por poeira cósmica, estrelas e planetas, se movem no espaço e a distância entre os corpos celestes é tamanha que, quando as galáxias se cruzam no espaço, as estrelas passam a muita distância umas das outras, nem chegam a se chocar.

Acostumada a transitar pelo mundo da fantasia, tendo o gosto pela ficção científica, o hábito de trabalhar esse tipo de literatura obriga-me a ser cautelosa, parece ter-me fortalecido o tálamo: uma área do cérebro, um órgão considerado fundamental para a sensação de se ter consciência. O tálamo é o responsável pela noção de se saber quem é, o que pensa, o que faz.

E, questionada pela minha amiga sobre a possível existência de extraterrestres, instigada sobre a possibilidade de ter ali, ao alcance de minha visão um possível OVNI, cheguei à janela. O céu estava limpíssimo, nem uma nuvem sequer e eu olhei admirada aquele brilho, aquele ofuscar.

Quem sou eu para garantir ou não a existência de vida em outros planetas? Não posso ser cética até mesmo por uma questão de coerência, por trabalhar com literatura de ficção científica. Por outro lado, investimentos altíssimos são feitos por empresas idôneas em projetos de busca de Ets.

A SUN MICROSYSTEMS é uma delas e está patrocinando o SETI um programa de procura de povos alienígenas coordenada por cientistas renomados do Laboratório de Ciências Espaciais da Universidade de Califórnia em Berkeley. Dez servidores com um poder de computação monstruoso foi disponibilizado pela SUN MICROSYSTEMS para dar conta dos milhares de computadores que compõem a rede de buscas de extraterrestres.

E a “coisa” continuava brilhando intensamente no céu limpíssimo onde nem uma nuvem se fazia, sugerindo mais do que o entendimento do espaço sideral, sugerindo quimeras.

Mas a razão logo predomina e os questionamentos se esvaziam ante a consciência fortalecida.

A vida real se fez ouvir.

Ao longe, o som de um trio elétrico, a cantoria alegre do carnaval trazida pelo vento...

Isaura Theodoro - Escritora cronista, poetisa, romancista. Biógrafa, historiadora e pesquisadora.