A vida e o tempo.
Hoje vi os meus cabelos caindo como uma pluma. Vi também que muitos fiapos grisalhos desgastados pelo tempo, destacavam-se ao chão. Não eram tão brilhosos assim, mas corriam pelo salão promovido por um tênue vento do secador, vizinho a minha cadeira. Pensei comigo mesmo sobre a vida que levamos. Uma correria obstinada ao sucesso faz-nos voar a sonhos intrínsecos. Ali, exposto ao tempo, vi raízes dilaceradas pela navalha que reluziam ao espelho na minha frente. Um simples corte e a ligação é desfeita. A vida ali, também terminou. Uma parte de mim, exauriu. No espelho, o meu rosto assustado e marcado pelos sinais do tempo não escondiam a decepção de estar sendo consumido de forma tão objetiva como vermes que atacam um tecido necrosado. Instintivamente olhei o avental alvejante sobre mim e notei também os remanescentes cabelos pretos, estes, sim, deixaram as raízes que me sensibilizaram até demais. Vida! Vida! Essas renascerão e presenciarei com toda a minha reflexão que nem tudo morre em nós quando retirados por estética, higiene ou quaisquer situações a que somos e queremos pela nossa subserviência, outorgadas em nossa criação. O tempo me fez envelhecer, “paciência”, mas continuo o meu caminho como os cabelos grisalhos, ao sabor do vento, porque na essência da minha raiz existe o prazer de viver. Impossível seria se eu deixasse esses suportes aniquilados. Um dia partirei e deixarei aos meus parentes e amigos a reflexão de que tudo que fazemos nunca será em vão desde que deixemos como legado nossas raízes.