POVOS ORIGINÁRIOS

ENTERREM MEU CORAÇÃO NA CURVA DO RIO

Nelson Marzullo Tangerini

Um livro pode levar seu leitor a dois caminhos: o da indignação ou o do genocídio. É o caso do livro “Enterrem meu coração na curva do Rio”, de Dee Brown, que relata como os povos originários da América do Norte, foram quase totalmente extintos pelos brancos, de origem inglesa e cristãos.

Obviamente, como carrego em meu sangue, também, o DNA de povos originários da Europa, senti-me envergonhado e indignado, diante do genocídio promovido pelos invasores, que traziam, além de ganância e doenças, a “boa nova” salvadora de nativos sem alma.

Quero ser otimista em imaginar que o capitão, que tentou dar continuidade ao genocídio dos povos originários do Brasil, tenha lido o volumoso e substancioso livro de Dee Brown, para que tenha chegado a esta conclusão tão rasteira e escatológica, de que “Competente, sim, foi a cavalaria americana, que dizimou seus índios no passado e hoje não têm esse problema”. Sem contar que, para a alegria de fazendeiros, garimpeiros e madeireiros, prometia a desdemarcação das terras dos povos nativos. Sob aplausos da caterva, anunciou, com aquele riso franco e puro para um filme de terror, que, no seu desgoverno, os “índios” não teriam nem 1 cm de terra.

Diante de tudo isso que está acontecendo; diante de todas essas declaração genocidas, racistas e genocidas, só falta mesmo o capitão ser processado num Tribunal Internacional. Leia-se, o de Haia. É genocídio, sim, e merece uma punição severa.

Se não nos unirmos para barrar o genocídio dos povos originários, os Yanomami, como outras etnias, que se banham e se alimentam da pesca na curva de rios amazônicos contaminados de mercúrio, a tendência é a continuação do genocídio, promovido pela ideologia de que os povos ocidentais são superiores aos demais povos da Terra.

O trabalho da Survival International, apesar de ser uma ong inglesa, tem essa finalidade: a de mostrar que os povos das florestas estão sendo exterminados. Justamente porque as defendem, dando prosseguimento a uma sabedoria deixada por seus ancestrais.

Encurralados por garimpeiros em sua própria casa, os Yanomami têm medo de buscar comida na selva, uma vez que temem encontrar-se com garimpeiros fortemente armados (pelo governo anterior) e perder a vida.

Epiteto, escravo e pensador grego escreveu que “Ninguém em estado de medo constante é livre. Da mesma forma, quem obteve alívio da dor, do medo e da ansiedade, conquistou a liberdade”.

Além de assassinatos e ameaças de morte constantes, as Yanomami vêm sofrendo assédio e estupros por parte de garimpeiros. Segundo relatos de pessoas dedicadas aos direitos humanos, que entre eles estiveram, as mulheres – inclusive meninas – são obrigadas a fazer sexo em troca de comida. Muitos relatórios, informando todas essas atrocidades, foram enviados para o Planalto, o Ibama e a Funai, que se mantiveram em silêncio. Nenhuma resposta foi dada; nenhuma ação foi tomada, para impedir, também, o feminicídio nas selvas amazônicas.

Tais crimes devem ir para um tribunal internacional, leia-se, repitemos, o Tribunal de Haia, que já condenou inúmeros ditadores genocidas.

A Tragédia Yanomami tem tudo para encorpar uma segunda versão de “Enterrem meu coração na beira do rio”, se o nosso duro e frio coração não se incomodar com este genocídio anunciado pelo capitão.

Humanistas de todo o mundo, uni-vos!

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 28/01/2023
Reeditado em 29/01/2023
Código do texto: T7706174
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