O satanista
Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo são quatro as horas abertas: meio-dia, meia-noite, amanhecer e anoitecer. São as horas em que se morre, em que se piora, em que os feitiços agem fortemente, em que as pragas e as súplicas ganham expansões maiores, horas sem defesas, malévolas, dedicadas aos trabalhos de destruição.
As aberturas do corpo não são só as entradas para esses inimigos constantes e misteriosos.
Horas abertas... e o que é um corpo fechado?
Dia desses conheci um satanista... sim, um satanista! Já vi de tudo nessa vida e como sou curioso comecei perguntando pelo seu deus:
- Você o vê?
- Sim, vejo com frequência.
- Como ele é?
- Ele é como ele que ser e as vezes como eu o quero ver.
- Como você o invoca?
- Tá vendo essas cicratizes nos meus pulsos? nas horas certas eu faço furos com uma faca, tiro três gotas de sangue, ponho num pires, acendo uma vela... então ele aparece.
- Qual as tais horas certas?
- As horas dele.
- Interessante.
- Você não acredita, mas você sabe das coisas. Viu quando eu entrei aqui no bar? eu não entrei sozinho, eu estava acompanhado.
- Não, não vi mais ninguém.
- Pois tinha mais gente comigo, eles estão aqui, tem um bem pertinho de você.
- Oxe! esse povo bebe?
- Alguns bebem, outros não. Levante sua camiseta pra eu ver, por favor - Levantei minha camiseta e então ele falou:
_ É, você tem o corpo fechado.
Tenho o corpo fechado?! e já estava anoitecendo, uma hora aberta... Ele foi embora e eu não pude dizer, vá com Deus!