FEITO DE LÃ DE OVELHA

 

Quando eu era criança, lá em casa os acolchoados eram feitos de lã de ovelha, porém eu não sabia como eram produzidos. Certa vez, após a tosquia das ovelhas que vovô criava em sua fazenda, mamãe lhe pediu que mandasse alguns sacos contendo lã para que ela fizesse um acolchoado. Naqueles idos, finais da década de 1950, acolchoados de lã feitos em casa ainda eram muito usados no interior de Santa Catarina. Morávamos no planalto, onde os invernos, naquelas altitudes, são muito severos.

 

Recebida a lã, mamãe pôs-se a trabalhar. Primeiro, lavou todo o material, deixando-o de molho no tanque, com sabão, de um dia para outro. Depois enxaguou e deixou secar ao sol. Após essas duas etapas, começou a abrir a lã, desfiando-a como um algodão, ao mesmo tempo em que ia retirando as impurezas. As ovelhas e carneiros soltos nos campos e matas, vão prendendo em sua lã pedaços de folhas, gravetos, sementes, torrões, insetos e tantas outras impurezas. Desfiar a lã e limpá-la é tarefa que leva dias.

 

O tecido onde seria feito o acolchoado era de algodão, com trama bem fechada. Mamãe estendeu a metade desse pano no chão de nossa sala de estar, deixando a outra parte dobrada para depois fazer a cobertura. Na parte estendida, foi distribuindo a lã e costurando, fazendo um desenho geométrico formando pequenos quadrados. Usava uma agulha grande e linha grossa. Feito isso, colocou sobre a primeira peça o restante do pano e tornou a costurar em listras, prendendo tudo. Trabalho totalmente manual e que exigia grande habilidade, acabando em uma costura lateral, fechando  a peça. É uma tarefa demorada e, enquanto isso, não podíamos usar a sala de estar. Mamãe estava a produzir uma coberta para minha cama.

 

Depois desse trabalho minucioso, ainda faltava uma capa para o acolchoado. Ela foi à loja de tecidos de Seu Olímpio Almeida e comprou um pano florido, de chita e, na máquina de costura Singer, de pedal, fez a capa, que podia ser removida e lavada.

 

Estava pronta a coberta para o inverno, que ajudei a fazer, na etapa de lavar e abrir a lã. Trabalho quase que totalmente manual. Serviu-me por muitos anos, nas noites frias de inverno. Eu só me desfiz dele quando estava bem velho e puído. Foi substituído por um mais moderno e leve.

 

Hoje tudo é sintético e industrializado. Minhas lembranças são tão boas de quando não só se fazia acolchoado de lã de ovelha, mas também, colchão de palha de milho e travesseiros de paina e de marcela que íamos recolher nos campos. A Natureza nos fornecia a matéria prima, graciosamente.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 27/01/2023
Reeditado em 28/01/2023
Código do texto: T7705367
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.