DEZ ENTRE AS COISAS MAIS INDISPENSÁVEIS QUE PODEMOS DISPENSAR .

 

 

    Sou de opinião que todo barzinho deveria ser tombado pelo patrimônio histórico. Quem , nesta nossa vida suada e sofrida , entre um chope e alguns petiscos, não fez promessas e declarações de amor, pediu desculpas e em casamento (se bem que pedir em casamento num barzinho, entre chopes e petiscos, pode ser uma faca de dois gumes), cantou e foi cantado, distribuiu e recebeu números de telefone, perdeu o celular, esqueceu a bolsa ou ficou de porre ?

    Quem, em sã consciência e sóbrio (é importante que esteja sóbrio para não esquecer detalhes) não incluiu a presença num barzinho entre suas melhores passagens, aventuras e lembranças de vida ?

    Quem, falando com toda seriedade e inocentemente, não aproveitou a presença num barzinho para contar histórias que nunca aconteceram, falar mentiras facilmente perdoáveis e fazer apostas ?

    Pois é exatamente sobre falar mentiras facilmente perdoáveis que quero dar prosseguimento a este texto. Já era hábito de muitos anos eu e meus colegas nos reunirmos no bar próximo a nossa firma, toda sexta feira após o expediente.

    O bar pertencia a um casal de portugueses o seu Sérvio e a dona Honória. O seu Sérvio, já sabendo das nossas preferências, naquela noite nos recebeu com uma bela travessa de bolinhos de bacalhau, além do chope geladinho, claro. Conversa, vai, conversa vem, alguém comentou que sua mulher tinha lhe dado de presente uma escova de dentes elétrica.

    Ele se queixava que aquilo era completamente inútil e que o que o deixaria feliz na verdade seria um barbeador elétrico. Um outro colega também aproveitou para se queixar da mulher, pois ela acabara de comprar, por um preço absurdo, um descascador de batatas elétrico(na segunda batata a ser descascada, queimou os circuitos).

    Quando chegou minha vez, disse aos presentes que lá em casa tem uma complicadíssima cafeteira elétrica que também faz capuccino, expresso, leite quente e tantas outras coisas, que é possível que até faça milk-shakes.(é bom deixar bem claro que não fui eu quem comprou a tal máquina).

    A conversa foi fluindo tão animada que surpreendentemente cada um percebeu que tinha problemas semelhantes e foram apresentando suas queixas . Logo surgiu a seguinte e interessante lista: (como estávamos num bar, tomando chope e comendo bolinhos de bacalhau, não havia como provar a veracidade das informações aqui fornecidas) : quebra-nozes elétrico, babador transparente para quando você comer macarronada, abajour que troca de cor conforme a camisa ou pijama que estivermos usando, rádio que só sintoniza músicas do Roberto Carlos, bola de cristal com seu horóscopo diário, porta retrato de parede para 200 fotos, calça de malha para a mulher fingir que vai a academia, óculos de sol que massageia as orelhas, cobertor refrigerado (Interessante essa tolice pois para que servem os ventiladores e os aparelhos de ar-condicionado ?), TV de pulso, que tem que estar acompanhada de uma poderosa lupa, e muitas outras bobagens.

    Quando chegou novamente minha vez de falar, contei a surpresa que minha mulher resolveu me aprontar num dos meus últimos aniversários. A idéia dela era alguma coisa super-informal e o que existe mais super-informal do que uma festa havaiana?

    Detestei a idéia até o momento em que me lembrei que as havaianas usam sarongues... O detalhe é que minha mulher quis escolher minha roupa e achou que eu ficaria muito bem num bermudão estampado (desses ridículos que terminam entre os joelhos e as canelas)e uma camisa pink com vários abacaxis estampados. Camisa pink, tudo bem, mas abacaxis ?!! (Que fique aqui só entre nós, homens: muitas vezes as mulheres se aproveitam de todas as oportunidades para se vingar de nós, os maridos, obrigando-nos a nos vestir com roupas ridículas).

    Como a festa era havaiana (lamentavelmente, nenhuma havaiana veio de sarongue) ela resolveu me presentear com um furador de coco elétrico, que já vinha com um dispositivo para escorrer a água automaticamente num copo de alumínio previamente gelado. Até hoje estou tentando entender como é que aquela geringonça funciona.

    Solidário a minha frustração , outro amigo contou que certa vez ganhou (da mulher, sempre da mulher) um estranho relógio que” falava” (se ele falava, prá que marcar ?) as horas. É isso mesmo, um relógio que não tinha ponteiros mas sim uma voz que anunciava as horas e os minutos.

    O desagradável é que (e ninguém nunca pensou nisso, tenho certeza!) quando a bateria ia perdendo a carga, o relógio anunciava as horas com atraso, de uma forma absolutamente incompreensível e pela metade, tipo assim: “são dua... e ....minutos...”Depois que meu amigo jogou o relógio fora nunca mais chegou atrasado a um compromisso.

    No Natal passado, ganhei dos meus filhos um presente genial. Foi um cadeira parecida com essas tão comuns que levamos à praia . Só que não era uma cadeira tão comum assim. Era na verdade um aparelho apropriado para qualquer vítima que quisesse praticar exercícios para perder a barriga e engrossar as pernas. Ela era reforçada por uns elásticos que ficavam na parte inferior da cadeira e que uma vez sentado, te obrigavam a fazer um número incontável de flexões.

    Talvez você diminuísse a barriga mas certamente ganharia serias dores e desvios de coluna. Suportei a cadeira até um dia que um dos elásticos saiu do lugar e estalou violentamente na minha cabeça. Passado o susto, joguei a cadeira fora.

    E assim o tempo foi passando, com vários casos, piadas, risos e muitas, muitas mentiras perdoáveis. A melhor da noite foi do colega mais velho da turma.

   Sua mulher lhe deu (não sei de onde veio tanta inspiração) uma cueca de seda, imitando pele de onça. A gargalhada foi geral e durou vários minutos. Só um dos presente não achou graça . Levantou-se, com a cara amarrada e num tom bem azedo perguntou quanto estava devendo.

    Estranhamos a atitude dele. Queríamos saber o que tinha acontecido, pois já estávamos ficando preocupados. Ele vacilou um pouco, olhou cada um de nós e disse muito sério :

    “Vocês riram porque o amigo aí ganhou uma cueca de oncinha, não é ? E eu que ganhei uma cueca de seda cor de rosa ? “

 

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NOTA EXPLICATIVA : Para evitar quaisquer dúvidas ou constrangimentos, já avisei a minha mulher que no próximo Natal quero ganhar um par de chinelos de couro pretos n º 39 e um pijama de malha tamanho médio, cor azul marinho. É melhor não correr riscos....


(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 09/12/2007
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T770486
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