UMA HISTÓRIA MUITO LOUCA (Uma visão ou pesadelo?)

 

O sol nasceu, e te vejo através dele...

No brilho da manhã tu me dizes que sou a lua, a estrela viva desse teu particular universo.

E então digo que se sou a lua e tu o sol, encontremo-nos por trás da montanha, onde tudo é possível, até pecar, lá estaremos formando um só poema, feitos de versos cheios de amor e paixão

Nesse pecado nos perdemos e nos encontramos a dedilhar corpos sagrados e profanos. Alcançaremos os mais altos céus, mas também passaremos pelo inferno, mais adiante, encontraremos o lugar de purificação, o purgatório onde almas em dores e medo pedem socorro

Nesse purificar me vejo e a ti como que passarinhando... De tanto passarinhar fizemos nascer uma flor que arrancada de nossos peitos, juntamos num só ramo, transformando em nosso símbolo de amor...

 

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Segundo ato

 

Num momento me vejo sozinha, colocada sobre uma mesa alta que me parece um altar...

Na minha frente um ser vestido dos pés à cabeça, tendo na mão uma chibata que me dá ordem de eu me mostrar quem realmente sou.

Diante dos meus olhos, céu e inferno existem, lado a lado. Um lado claro, com flores, sorrisos abertos, tudo tão perfeito!

Do outro, vejo imagens retorcidas, fogo e sujeira cobrem o chão. Seres com máscaras horrendas, soltando gritos pavorosos e o verdugo a todos castigando.

Quer que façamos tudo o que mandar. Seres outros se apresentam pegando nossos corpos como se fossemos um nada, introduzem em todos os orifícios algo parecido com grandes falos. Impõem posições as mais grotescas. E, nós ao mesmo tempo gritamos de dor e prazer.

Até do céu, vem seres atraídos pela orgia. Se mesclam conosco e o verdugo sorri e chora e aumenta suas vergastadas em nossos lombos já quase triturados. Somos corpos desfeitos e nossas almas de impurezas infestadas. O mal cheiro é intenso. Uma gosma dos nossos corpos sai Tem um odor de esperma, de fezes e urina. Quanto mais o sofrimento maior é a euforia do verdugo e de nós outros.

Também sorrimos e choramos pelas nossas próprias dores e a dos outros. Tudo se torna uma grande e imensa festa... Danças sobre os corpos dos mascarados...

Nessas almas degeneradas há tudo de pior que a criação se compraz, fazendo alvos de uma mesma mesa de humanos pervertidos que se alimentam chorando e sorrindo de suas próprias dores.

 

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No entanto, indo mais profundamente, neste meu eu contraditório, onde céu, inferno e purgatório convivem, em alternância de manifestação, vejo um sorriso belo destoante Onde tantos são mero arremedos de alegria e dor para sofrimentos e degradação...

Nesse sorriso havia a sempre misericórdia divina que com suas lágrimas de sangue curava a todos

Compreendo então, que eu e o verdugo somos um só... Os outros seres também... O verdugo é o meu ser que se prende à alegria ao sofrimento alheio.

Uma parte de mim que se compraz a cada lágrima de ódio que dos meus olhos e dos outros que vivem ao meu redor caem. Essas lágrimas são como pétalas de sangue que fazem o verdugo em mim existente fremir a cada chibatada no corpo magro dos escravos

Nesse rastejar há o desejo intenso pelo seu dono que sorri satisfeito ao vê-la humilhada

Esse ego do mal transcende a vida afora. Aquele escarro leva todo desejo impuro

Assim seja feita a vontade do verdugo que ao ver seu desejo satisfeito, dá como prêmio um novo comando

Raimunda Lucinda Martins