A casa do amor
Deus foi perfeito ao criar o homem. Depois do sopro inicial, cuidadosa e amorosamente, criou-lhe muitos órgãos, cada qual com sua absoluta utilidade e importância. E se deteve ao criar os olhos, dois, para que sua criação pudesse enxergar tudo a seu redor: o belo, o feio , as bondades, as maldades, tudo que, sabia, ele traria dentro de si. Depois criou os ouvidos. Dois também, para ouvir sempre as duas versões que todo fato traz. Para ouvir todos os sons da terra e dos céus... nem imaginara que esses órgãos ouviriam os estrondos de canhões e mísseis que, ao longo do tempo, arrasariam a sua obra prima. Nem os miseráveis diálogos proferidos entre reis e rainhas, governantes e governados, pastores e pastoreados, maridos e mulheres, pais e filhos, irmãos e irmãs, amigos e inimigos , enfim, por todos cuja língua nem sempre fora governada pelo órgão mais sublime por Ele criado: o coração. Ah... este seria o mais importante, o dono de todas as suas emoções e sentimentos. Uma casa onde moraria o amor, que deveria governar a humanidade, para que todos vivessem em harmonia e em paz Assim pensou em seu projeto. Finalizando sua obra, criou-lhe um órgão regulador, fiscalizador, que ficaria no ápice, acima de todos os órgãos – o cérebro . Este comandaria todas as ações de sua criatura, desde o caminhar, ver, ouvir, falar, sentir, pensar,memorizar, ao discernir. Ah... que maravilha. Sim, tudo para torná-lo um ser diferenciado... superior. Podendo discernir entre o certo e o errado, o falso e o verdadeiro, o justo e o injusto. Enfim, um homem racional e inteligente. Agora sim, sua obra estava completa. Poderia deitar-se e dormir o sono dos justos . Acordou atordoado em uma bela manhã de primavera... o homem enlouquecera, o ódio invadira o mundo, ninguém entendia ninguém... uma nova torre de babel, o apocalipse das ideias. Estarrecido, voltou a dormir...