Lutando com monstros
Que pressa é essa de encontrar em ruas e esquinas o que não está lá? Que inquietude que não cessa nunca que faz seu coração acelerar e você buscar um colo, um amigo, um padre ou um amuleto quando no íntimo você sabe que não se encontra remédio definitivo nesses lugares? Que tudo isso pode amenizar sim, mas não extinguir a dor inteiramente como as velas mágicas que a gente jura que soprou forte e a chama volta a queimar. E esse fogo é do tipo que arde, dói.
Esse ardor pode atravessar mais de um oceano e te acompanhar aos confins do mundo, subir montanhas e descer profundos vales porque onde vamos a alma vai também. Vai sorrateira dobradinha em qualquer canto da mala, afinal, é tão etérea e volátil. Só que a alma quando pesa nem navio cargueiro suporta e pessoa nenhuma consegue aliviar sem um mergulho interno.
Se procurarmos com paciência e sensibilidade vamos encontrar a raiz da tristeza escondida na curva de uma artéria, mimetizada numa dobra do cérebro (afinal a massa é cinza e a tristeza também) ou pode estar instalada em qualquer lugar à flor da pele. É preciso apurar os sentidos porque as dores costumam ter vergonha de nos atormentar e se ocultam ao máximo, não sendo raro demorarem décadas para serem localizadas.
Tem gente que desiste de procurar o motivo (geralmente mais de um) para as suas tristezas por considerarem que existem outras motivações para viver feliz. Tem gente que encontra o exato local da dor mas não sabe o que fazer sem ela, não se reconhece mais sem ela, daí finge que não sabe onde a dor está. Não aceito dores de estimação, quero lapidar meu ser o máximo que puder. O monstro é sempre mais feio e assustador quando evitamos encará-lo. Sei que há monstros no mundo externo como a fome e o preconceito, mas os do mundo interno é nosso dever espantar e expulsá-los para que dentro de nós só habite a harmonia e o equilíbrio. Isso é ser grato ao presente da vida, uma vida em amargura é um desperdício a ser evitado a qualquer custo, mas não sob a ótica do vizinho e sim segundo os nossos valores. Como disse o cantor Lenine, a vida é tão rara.