IANOMÂMI
NAZIFASCISMO À BRASILEIRA
Nelson Marzullo Tangerini
Indignado com o que vem acontecendo com os Ianomâmi, que, inclusive, tiveram sua etnia negada com a publicação do livro “A farsa Ianomami”, de Carlos Alberto Lima Menna Barreto, Editora Biblioteca do Exército, 2012, resolvi escrever algumas mal traçadas linhas a respeito.
O tal recorte – a respeito do livro -, que circula nas Redes Sociais negacionistas, e que veio parar em meu zap, prova a existência de tal obra (?), etnocêntrica e racista, que diz, entre outras coisas, que “Trata-se de iniciativa de fé púnica a artificiosa invenção de um grupo étnico para permitir que estrangeiros venham a se apropriar de vasta região”.
Tal discurso vazio, fantasioso, fruto do delírio de pessoas pouco versadas em Antropologia, de que potências estrangeiras invadiriam o Brasil, não passam de uma farsa construída por quem, ao mesmo tempo, se dispõe a acobertar e proteger madeireiros, fazendeiros e garimpeiros, estes sim, os maiores interessados na dilapidação da Amazônia, por estar ali o caminho fácil do capitalismo, este sim, selvagem, o lucro fácil, às custas da pobre gente que vive dos recursos naturais da floresta.
Diante de tudo isto, e diante deste genocídio tantas vezes anunciado e jogado para debaixo do tapete pelo governo genocida; e diante de inúmeras fakenews tentando fazer com que o tolo acredite que aqueles pobres seres humanos, contaminados pela malária e pelo mercúrio jogado nos rios pelos garimpeiros, eram venezuelanos fugidos da ditadura de Maduro, resolvi escrever um texto, melhorá-lo e transformá-lo numa carta, que foi enviada por mim ao jornal O Globo, missiva esta que foi publicada no dia 25.1.2023:
“Se o governo genocida tivesse estudado Antropologia, o futuro dos Ianomami e de outras tribos teria sido melhor.
Desde já, sabemos o que querem os golpistas:
defender o garimpo ilegal, os madeireiros, o genocídio de povos originários, o lucro fácil e o emburrecimento do povo brasileiro.
A campanha armamentista de Bolsonaro visava
fortalecer ricos empresários, fazendeiros, garimpeiros, madeireiros e os nazifascistas. E então essa caterva tomaria o Brasil de assalto, implantando uma ditadura de extrema-direita.
Que esses homens retrógrados sejam desmoralizados”.
Na carta, é óbvio, fui mais além, porque queria provar que a campanha armamentista do fugitivo ex-presidente, como vimos, só beneficiou o crime organizado, ou seja, aqueles que, fortemente armados, promovem a destruição da floresta, atropelando vidas humanas, como a dos Ianomamis e outras etnias. O indianista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, são prova disso, pois foram covardemente assassinados – como Chico Mendes -, enquanto defendiam os povos originários e denunciavam o desmatamento, a pesca e o garimpo ilegais.
Negar a existência de um grupo étnico é crime, crime semelhante ao nazismo, responsável pela morte de mais de 6 milhões de judeus. O negacionismo, geralmente nazifascista, não é uma invenção recente, uma novidade. Há muito a prática do negacionismo de supremacistas circula entre nós. Eles negam o holocausto, como os turcos negam o extermínio de armenos, e como os brancos tentam minimizar o sequestro de africanos que acabariam escravizados nas Américas. Os brancos, inclusive, acham pouco o que os africanos passaram em solo americano. Tal sofrimento, depois de uma dolorosa diáspora jamais vista, não é reconhecida pelos supremacistas (negacionistas).
Negar a ciência e a história é mergulhar de cabeça, portanto, no medievalismo, que ceifou inúmeras vidas humanas que usavam o cérebro.
Minha carta foi enviada, também, para o jornal O DIA e a revista CARTA CAPITAL.