PAPO COM O SUPEREGO

Sento em frente ao Notebook como se fosse na mesa de um bar. Nada de concreto na cabeça par escrever.

- Garçom, mais um chopinho

Meu superego logo aparece para me arrasar.

- Pare de palhaçada cara! Não está num boteco! Está na sua sala de visitas, sem plateia para aplaudir essas graçolas sem graça. Trate de pôr a cabeça para funcionar, porque ela está enferrujada pelo longo tempo de inércia. Só fazendo joguinhos de revistas de jornaleiro e relendo livros antigos não vai ajudar a produzir nada de razoável Vá esquentando a máquina. Uns versinhos aqui, uma croniquinha ali, um continho mais adiante. Precisa ganhar ritmo!

- Ah, lá vem você de novo com suas críticas que nada ajudam. Diga lá, quantos textos tem produzido ao longo desses longos anos que me acompanha?

- Só não rio porque o assunto é sério. Onde já se viu superego produzindo textos literários. Sou seu amigo, aliás seu super amigo. Minha função é cutucar você para que saia do marasmo e sente o traseiro em frente a esse notebook para escrever alguma coisa que possa ser lida, sem bocejo, por seus amigos, já que você jamais teve coragem de publicar seus textos que realmente poderiam ser apreciados e até realçados por quem jamais o conheceu.

- Você leu alguma coisa do que eu escrevi, eguinho?

- Sem deboche nem bajulação. À medida que você escreve, eu absorvo tudo, seja ruim ou bom, mas agora, estou encostado, num canto, à espera de sua inspiração literária, que no presente momento, se aproxima do zero.

- É, criticar é fácil. Quantas vezes já tentei dar vida à imaginação e acabei desistindo, indo ver TV ou saindo para

fazer compras... Comecei me transportando para a mesa de um bar, chamei o garçom, pedi um chopinho e, de repente, você me aparece e arrasa com o que poderia vir a ser uma crônica ou até mesmo um conto.

- Ah, quer dizer que eu atrapalhei sua prodigiosa imaginação. Mil perdões. Estou indo embora. Recolho-me à minha insignificância. Adeus...

- Ei, Super, não parta assim aborrecido. Foi-se embora. Agora só me resta voltar à ideia inicial, pra ver se desenferrujo a cabeça.

- Garçom, mais um chopinho!

Janeiro/2023

Ruy Soares
Enviado por Ruy Soares em 25/01/2023
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