E se...
A saga do semideus
Todos os dias a mesma rotina.
O despertador, desesperado, insiste em acordá-lo. Uma ida ao banheiro para tirar o excesso de líquido ingerido durante a noite, depois, senta no sofá e descansa do sono pesado da noite. Tenta alongar seu corpo semi enferrujado e planeja seu dia na mente.
Faz seu café, esquenta seu pão diário e leva a louça deixado do dia anterior.
Rebaixado a semi humano, necessita realizar suas necessidades fisiológicas e distrai a mente com algum jogo sem sentido. Toma seu banho, olha no espelho e vê a condição degradante em que se encontra.
E se estivesse no Olimpo?
Passa um perfume, que nem lembra a essência celeste que sua memória afetiva recorda, e saí para seu ofício diário.
O lugar de sempre, aguardando o transporte público, lembra de sua insignificância e aparecem os insistentes questionamentos sobre sua atual condição. “Por que os deuses me esqueceram?”. Ônibus lento e lotado, mais um dia chegará atrasado.
Já em sua mesa, uma tela mostra o passado e lança suas previsões. “O que terei que cortar hoje?” Decidir sobre questões humanas é difícil e burocrático, “isso deve dar trabalho aos deuses”. Busca recursos tentando administrar tudo, para manter a roda girando.
Para o tanto que faz, acreditar ser mal remunerado. “Essas criaturas aproveitam da minha condição semi celestial”, mas quem sabe que é um semi deus? Luta para semi existência.
Por vezes, se perde na frustração, outra condição humana, e utiliza de artifícios dos céus de forma pagã. Acende um cigarro para a defumação e elucidação de seus pensamentos.
E se sua condição divina fosse revelada?
Lembrou que Thor foi detido por homens e levado a internação, após ir a público e dizer quem era. Melhor se manter no anonimato.
Seu canal de escuta foi desligado, devido a isso, tenta o artifício da reza e oração. Mas senti que não funciona, mas como os seres daqui o ensinaram, criou o hábito. Não pede, não se queixa, nem agradece, apenas reza.
Se questiona sobre a causa do castigo, nem se lembra de ter realizado algum ato não permitido pelas convenções divinas. Não aceita, mas segue.
E se um dia se rebelasse? Cansasse de sua condição humana e fugisse da Terra rumo a outro planeta. Talvez Marte, ou fosse viver uma vida solitária na lua? Mas se lembrou novamente do tratamento ofertado a Thor, que tinha o mesmo plano. Deduziu então que este planeta é uma colônia prisional e decidiu aceitar seu destino.
Vezes, os questionamentos voltam, mas e se...