Coragem para mudar - CTF 3
Vamos falar sobre efemeridade da vida. Meio ousado e aleatório, né? Pois é. Mas é que eu percebi que o mês já está acabando e eu simplesmente não sei o que fiz em todos esses dias. Sério. Eu não me lembro de como foram os meus dias. O que é uma loucura - nem tanto, se eu considerar que, bem, tenho covid longa e cada dia eu vou melhorando gradualmente.
Mas é isso. Os dias tem passado muito rápido e eu não fiz grandes coisas. Parece que eu só estava ali, mas sem ter feito nada além do mínimo. É péssimo, eu sei.
Eu costumo ser ágil, focada, proativa. Se preciso fazer algo, eu faço. Me desembaraço fácil das pequenas cotidianas. Detesto bagunça e evito encrencas. Todavia, quando eu preciso tomar alguma decisão mais assertiva, de um assunto sério, eu paro e penso. Sem pressa. Dependendo do que for, eu penso por horas, dias, meses até. Eu sou o tipo de pessoa que rumina tudo, os mínimos detalhes, até a exaustão. Perco algum tempo nisso, mas é que preciso saber que ponderei todas as alternativas e cenários imaginários. Posso até perder um tempo, mas raramente me arrependo dos meus atos e das minhas decisões. Não nasci para avançar duas casas e retroceder quatro. Eu vou avançando uma casinha de cada vez.
Só que cautela é uma coisa e medo é outra, caro leitor. O medo nos paralisa, nos sufoca, nos aprisiona no mesmo lugar. Já vi muita gente que fica parado com medo de errar e não dar certo. Eu costumo ter medo de mudanças muito drásticas, mas lido com as que são graduais. Porque aprendi que esperar aparecer coragem para fazer algo é perda de tempo. Coragem não aparece, se cria. Sei que é cômodo esperar que o destino dê aquela guinada na nossa vida, mas não vai rolar. É preciso assumir as rédeas da vida e ir atrás da mudança.
Eu preciso mudar algumas coisas na minha vida esse ano. Deus sabe como vai ser difícil, pois eu não lido bem com isso. Mas está na hora de me arriscar mais. Por causa dessa protelação descabida, quando dá por si, descobre que metade da vida já passou. Não podemos permitir, caro leitor.
Não dá para passar a metade da vida com medo de mudar. Não dá para não realizar um sonho ou ser livre ou assumir seus desejos mais profundos como medo de sair do seu conforto. Metade da vida é tempo demais. Metade da vida pode nem chegar, já que somos tão efêmeros. Esperar tanto tempo para viver de verdade é perder um tempo precioso que deveria ser gasto criando memórias.
Estou chegando nos trinta anos daqui a pouco. Preciso viver um pouquinho mais. É o que pretendo fazer esse ano.
Essa consciência nos atinge, em diferentes momentos. Acho que está me atingindo agora, em que não consigo me lembrar de coisas básicas que fiz ontem. Você já se deu conta disso, caro leitor? Há algum sonho, plano, desejo que está adiando porque está com medo? Por favor, não me diga que vai ficar adiando. Quando perceber, já pode ter perdido metade da vida, um tempo em que poderia estar aproveitando para viver além de só sobreviver aos dias iguais e corriqueiros.
Como disse, estou em plena vigência da minha epifania e quero aproveitar essa etapa efervescente e fértil para fazer planos, virar mesas, fechar portas, abrir as janelas, recomeçar do início, acreditar de forma ingênua que posso me tornar renovada e alegre. Querendo ou não, todos nós passamos metade da vida procurando entender quem realmente somos. Contudo, será que ainda somos, caro leitor? Somos, mas cada dia deixamos de ser algo e nos tornamos algo a mais. Ficou confuso, né? Mas acho que entendeu o raciocínio, leitor. Esperamos muito de nós mesmos. Nossos pais, amigos e parceiros esperam muito de nós. E fazemos o possível para atendê-los. Porém, tente não ligar para as expectativas alheias e foque em você, caro leitor. Eu farei isso também. Ou a gente ousa, ou morre.
Ouse, caro leitor. Voa mais longe esse ano. Te encontro lá no alto.