No interior tem sempre um boteco numa esquina. Próximo à minha casa tinha um. Era minha escola predileta. As crianças da minha idade gostavam dos super-heróis da Liga da Justiça, mas meu ídolo era o Popeye. Sentado atrás do balcão, lendo o jornal do dia, avistava-nos de longe e, apressadamente, levantava os óculos, dobrava as folhas, colocava o cachimbo e se curvava frente à porta, à espera do abraço. O botequim era simples, vendia de tudo. Mas Popeye gostava mesmo era de vender sonhos, embalados em papel de pão. Puxava o rolo e o estendia pelo chão. O sorriso era a aprovação para sentar sobre o tapete e depois, nos enchia de lápis coloridos:
- Desenhem o futuro. Já, já ele bate à porta.
Foi lá que fiz meu irmão bancário, minha irmã professora, meu tio açougueiro. E fiz uma família pro Popeye, parecia solitário. Seus olhos encharcaram. Tempos depois, escutei uma conversa dos meus pais, que tratava do acidente fatal que destruiu sua família, no qual, ele era motorista. Quando chega o fim, parece que a sensação de dor sufoca a realidade e os sentimentos ficam adormecidos, em coma profundo.
Numa tarde de domingo fomos comprar doces e o entreguei um dos desenhos antigos, para dizer-lhe o quão o admirava e como tornou minha infância feliz. E ao olharmos juntos para a imagem, vimo-nos como pai e filha. Era uma moldura! O fim também é restauro e acalenta feito amor de menino: leve, sereno, puro e sem pressa.