VIAJANDO SEM NUNCA USAR DIAMBA

Quando demoro para dormir, isto é, muito frequentemente, penso muito. Estendem-se as horas e eu já criei todo um universo imaginário, com direito a personagens, momentos, diálogos e até sensações como frio e calor.

Já fiz de tudo quanto se possa pensar: pedi desculpas aos desafetos e rapidamente me arrependi indagando (em minha mente, é claro) se valeria a pena, afinal, depois de tanto tempo do ocorrido, o que eu faria com as malditas desculpas que provavelmente não receberia de volta? E se recebesse, não me daria uma gota a mais de paz, então que diferença faria? Ahn, acho que é melhor mudar o canal imaginativo.

Já pensei também em minhas entrevistas em um mundo imaginário onde fui, digo, onde sou uma referência intelectual. Imaginei, de forma bem realista, até as perguntas que seriam feitas sobre mim, a vida e a ciência. Até treinei as respostas! Percebi, inclusive, que respondo de uma forma tão xucra que, aqueles entrevistadores tão letrados como os do Roda-Viva, por exemplo, devem imaginar como diabos fui parar onde estava (num boom intelectual) respondendo de maneira tão aquém. Ri e não me senti mal. Ainda me acho inteligente, mesmo passando um pouquinho de vergonha em rede nacional.

Já pensei em como resolver problemas matemáticos valiosos ou até mesmo criar alguns. Escrevo sobre esse meu interior conturbado todo tempo, mas deveria escrever mais sobre minhas descobertas e indagações. Pode ser que alguma delas me rendam um bom prêmio e, embora a satisfação material jamais supere a intelectual, não andaria negando nenhum prêmio.

Agora, imagine só, eu dando essa resposta em rede nacional? Facilmente eu arrancaria alguns risos. Eu nem faria questão dos risos, eu prefiro a descoberta e o prêmio, mas tudo bem se rirem.

Se eu olhasse para o relógio, depois desse exercício que levou mais tempo para ser pensado do que para ser escrito, já deve ter se passado 1 hora... 1 hora e meia ou mais.

Será que o sono, se fosse uma pessoa, seria ranzinza? Eu acho que seria. Eu acho que todo mundo com grandes obrigações deve ser ranzinza para combinar com a responsabilidade. Grandes responsabilidades equivalem a grandes estresses. Não sei qual a grande responsabilidade que eu carrego, mas eu tenho grandes estresses.

Alguém realmente dorme ao contar carneirinhos? Acho que eu já contei até mais de 200, mas aí desisti.

Será que quem tem fixação com a natureza precisa tomar remédio pros nervos e ir à praia como terapia? Eu faria terapia na praia. Eu dormi.

Eu dormi mesmo.