O Grande Irmão
“A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão.”
Uma obra de ficção que mais se parece com um livro profético, um daqueles apócrifos encontrados em um jarro de barro à beira do Nilo, tamanho a exatidão que Aldous Huxley previu o surgimento da sociedade moderna.
Admirável Mundo Novo foi publicado pela primeira vez em 1932 e impressiona a todos que o leem pelo fato de, com um olhar de alguém que poderíamos muito bem acreditar que fosse um viajante do tempo, retratar uma sociedade futura onde as pessoas seriam completamente manipuladas por forças “invisíveis”, por tentáculos de um sistema não apenas autoritário pela força bruta, como os que estavam dominando a Europa na época da publicação da obra, por conta da ideologia fascista de Mussolini, na Itália, e do nazismo de Hitler e companhia, na Alemanha, mas, principalmente, por uma manipulação psicológica, um controle da mente das pessoas, visto também nas obras de Orwell, como em Revolução do Bichos e 1984. Talvez a similaridade do conteúdo abordado nas respectivas obras, tanto nas de Orwell como nas de Huxley, não sejam meras coincidências, já que este foi professor de francês daquele em uma grande universidade na Inglaterra.
O Grande Irmão, o Big Brother, vilão de 1984, teve em sua homenagem o batizado com seu nome, por parte de empresários do entretenimento holandês, o programa de reality show, talvez, com maior sucesso no mundo. Não é mera coincidência, também, o fato de que há mais de duas décadas esse programa atinja os maiores picos de audiência, ano após ano, na emissora de televisão que mais incorpora esse mundo de manipulação através da mídia, a Rede Globo.
Dando uma rápida procurada no youtube, podemos encontrar um vídeo no qual o já falecido ator José Wilker conta uma anedota de quando ele e mais algumas pessoas foram convidados pelos diretores da Rede Globo de televisão para uma reunião na qual os participantes poderiam dar sugestões de como melhorar as “técnicas” para se conseguir elaborar o Modus Operandi, isto é, algo parecido com o que hoje é conhecido como o padrão Globo de qualidade. Conta o ator que, após perguntar aos diretores o que acharam de suas ideias e tendo uma repercussão favorável e instantânea dos mesmos, ouvindo da parte deles que era aquilo que eles estavam procurando, Wilker disse que as ideias que trouxera, ele havia pegado no Mein Kampf, livro que Hitler escreveu na prisão depois de uma tentativa frustrada de um golpe de estado, onde o futuro líder no nazismo discorria sobre os meios mais eficazes para uma manipulação via rádio, que era o principal meio de comunicação da época.
A Channel 4, emissora pública de televisão do Reino Unido, percebeu esse sistema nefasto da Globo e em 1993 lançou o documentário intitulado Muito além do cidadão Keane, em que mostrava a relação entre mídia e poder no Brasil, filme este proibido por muito tempo aqui no país devido aos tentáculos inescrupulosos da emissora brasileira.
Após ter iniciado este texto com uma frase desta obra fantástica que é Admirável Mundo Novo, nada mais justo do que finalizá-lo com uma frase de Orwell que completa a ideia de Huxley e que ilustra da forma mais perfeita este chamado padrão Globo de qualidade – “O povo sustenta a marca, a marca sustenta a mídia e a mídia controla o povo."