Veranilce (interna da casa de apoio Pai Resgatando Vidas)
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Cada um de nós temos a nossa história, feita de altos e baixos... muito daquilo que nos acontece (de bom ou ruim) são consequências das nossas escolhas.
A história de Veranilce 36 anos, 6 filhos e alguns abortos (devido ocorrências de malárias), é bastante marcada por acontecimentos trágicos... De cortar corações.
Em 19 de janeiro, com 3 dias de acolhida e, 6 sem o uso de drogas, deu a sua primeira entrevista ao Marcos Bastos (presidente da "Casa Rosa"), Av. Joaquim Nabuco.
Em live de 57 minutos de duração, com o braço direito fraturado e engessado, com cabelos bem arrumados e trancinha a cair sobre a sobrancelha, a face com sorrisos tímidos a expor dentes alvos, perfeitos, bonitos...
Veranilce falou baixinho ao entrevistador e internautas, que o acompanhava e revelou um pouco de si, da sua triste e comovente trajetória de vida.
Em criança vivia com uma madrasta.
Com fraturas na bacia, por maus tratos, ficou paraplégica por 3 meses e 17 dias. E queixou-se ainda, sobre a falta de carinho que não teve, por parte dos irmãos.
"... Eu só tinha valor, enquando possuía alguma coisa, após acabar eu era desprezada; nunca foram mesmo de me abraçar."
Verenilce fugiu de casa em tenra idade: mais precisamente aos 13 anos...
Se diz levita (ama cantar louvores ao Criador); carrega consigo saudosas lembranças da sua juventude, do tempo em que servia a Deus numa humilde congregação pentecostal.
Marcos, ao lhe pedir uma "palhinha" de um louvor qualquer, Verenilce entoou lindamente um hino sobre Jó, que fala das suas provações...
Quem gava o toco é a coruja, mas aquilo que fazemos bem, amamos enfatizar. Parece que Verenilce não faz feio no que tange ao seu entretenimento preferido:
"Sou boa de bola..." — Diz.
Com seu desvario do aprisco das ovelhas, da irmandade cristã, do Santo caminho caiu de vez no 'mundão'...
Aos 27 anos começou a usar drogas e não parou mais. — Algumas vezes, era forçada a isso. Já sofreu queimaduras de companheiros de infortúnio, quando não estava afim de compartilhar o vício.
No seu andar errante (na dependência química), anos seguidos sobreviveu por milagre. Em tenebrosos lugares que frequentou, junto e misturada a más companhias...
Pelo muito sofrer, creio que Verenilce em algum momento perdeu por completo a esperança de dias melhores...
Cada vez mais se aprofundava no seu enleio sombrio de prazeres ilusórios, a enfrentar elevados graus de riscos...
Há em Veranilce, por toda parte do corpo e da alma, marcas visíveis desse seu penar, envolto em violência. Facadas, tiros, pauladas, agressões diversas...
Na sua vida nômade nunca pôde ter um descanso seguro, em paz; uma ingesta alimentar saudável, uma higienização adequada...
Banhava-se em poças d'água, em terrenos baldios. Para sobreviver já era rotina coletar alimentos desprezados no lixo; numa disputa com animais diversos: ratos, tapurus, formigas...
Por algumas vezes fora submetida a estupros com requintes de perversidade... que nem é conveniente relatar, detalhar isso por aqui. Andou por um tempo de fraldão, pelas ruas da cidade.
Chegou ao projeto pelos curativos de algumas lesões que sofreu num braço (por briga de moradores) e num dedo, com tendão rompido, devido a última tentativa de estupro que sofreu.
Assistida num domingo, no Pronto Socorro 28 de Agosto, pediu ajuda a uma assistente social a levá-la ao "Pai Resgatando Vidas".
Sendo atendida e encaminhada (ao endereço desejado) por essa e outras profissionais da saúde...
Encontrou o 'porto seguro' que tanto precisava para o tratamento dos males (do corpo, da alma e do espírito).
A instituição (na sua rotina, como fez e faz com tantas outras meninas), bondosamente o acolheu, em carinho e amor.
Com menos de uma semana de acolhimento a auto estima, a esperança de Veranilce vai ressurgindo das cinzas com a força de quem já vislumbra a vitória.
No tratamento da sua dependência química, na conquista de um trabalho;
na reconstituição de um viver feliz, em família, em sociedade.
"Creio que Deus vai me dar um marido, porque eu não vou sair mais da Sua presença."
Ainda revela que: gosta de arrumar uma casa e não gosta de roubar.
Por saber das acusações que a instituição que o acolheu vem sofrendo recentemente... disse:
" A Gente vai até o final com o Pai Marcos, para não fechar o projeto". Volta e meia Verenice aconselha as colegas internas, a fazerem o mesmo: saírem do projeto como vitoriosas.
Todas as meninas são, mas, Verenilce é muito especial nessa casa de apoio, pela pessoa que é, e pelo quadro de sofrimento mental que apresenta. Inclusive já teve passagem por Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). — Devido a um traumatismo craniano que sofrera.
Ao ser perguntado por Marcos se o seu maior problema foi a droga, respondeu: "Não. Meu maior problema foi o SOFRIMENTO."
" Uma história bem triste, triste, triste! Acredito que nesse projeto é a mulher que mais sofreu. Eu louvo a DEUS por essa minha profissão, por esse meu trabalho... Quero ver os meninos (as) saindo da minha aba, com um futuro". — Marcos Bastos
*Nemilson Vieira de Morais,
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.
(19:01:23)
Texto em conformidade com live de Marcos Bastos, de 19 de Janeiro