Solidão

Solidão.

Estava lendo a definição de solidão na Wikipédia – segundo essa imensa biblioteca virtual “A solidão é o estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só. Ela é formada pela reclusão do indivíduo que não se adequa a sociedade e é expurgado”. Essa denominação é ampla e muitas, muitas vezes não se aplica ao sentimento que temos. Podemos ter uma imensa família nos sentirmos sós. Podemos ter um emprego de sonhos e nos sentirmos sós. Podemos ter um companheiro que qualquer pessoa gostaria de ter e mesmo assim nos sentirmos sós. Nessa época de festas e de virada de ano, em alguns casos a solidão entre as pessoas fica tão terrível que muitas são levadas ao suicídio. Comentei com um amigo que o mês de dezembro, de acordo com estatísticas é o mês da depressão. Sabemos o que essas datas significam – algo esta terminando. Um novo futuro começa. Isso assusta, causa medo, principalmente quando percebemos que todos os artifícios utilizados para preencher nosso vazio interior foram inúteis. No momento de finalização percebemos que todos os subterfúgios que utilizamos durante o ano caem por terra ao final.

Porque isso acontece? Afinal tenho família, tenho amigos, tenho um amor, tenho um lugar pra viver e porque me sinto só? Família, amigos, relacionamentos afetivos, trabalhos são alguns dos recheios usados para preencher um vazio, para preencher um buraco imenso que nunca fica realmente cheio. Quando vemos que o emprego dos sonhos nem sempre vale a pena, quando sentimos que muitas vezes gostaríamos de ficar longe da nossa família e que o relacionamento não corresponde, o fantasma que julgavámos totalmente enterrado volta a nos atormentar. Temos carências, profundas e amargas. Carências que se não forem corretamente tratadas viram feridas enormes. O problema não é a família, nem amigos, nem trabalho e muito menos amor. O problema sou “eu” enquanto indivíduo. Não percebo que estou conectado a tudo nesse universo. Não posso jogar a responsabilidade de me sentir bem na família, nos amigos, no trabalho, no amor. Eu sou profundamente responsavel por mim mesma. Eu possuo uma tremenda responsabilidade de me fazer feliz. Não posso delegar essa tarefa a mais ninguém. Nasci só mas profundamente interligado a tudo o que vive e respira e também a tudo que é inanimado. Eu faço parte da natureza, não estou desconectado. Posso não me identificar com a forma que a sociedade me avalia mas faço parte de algo muito maior do que ela. Eu faço parte da natureza. A família não se limita a laços sanguineos, ela se estende a amigos, vizinhos. Em alguns casos encontramos mais apoio junto aos nossos amigos do que a nossa família. O trabalho pode ser maravilhoso se realmente nos sentimos produtivos, criativos e receptivos com as idéias que temos da vida. O amor – esse é algo muito delicado. Algumas pessoas pensam que ao encontrarem o amor dos seus sonhos a sua solidão estará acabada. Um engano que pode ser muito doloroso e cruel. O amor é compartilhar, ele é capaz de curar carências desde que consigamos aprender e crescer com ele. Quem quer curar carências não deve perder tempo buscando amor , mas sim procurar um terapêuta. Não é uma dominação de poder, nem um toma lá e da cá. É uma profunda relação de respeito. Eu penso que para curarmos a nossa solidão, não adianta irmos a um teatro lotado e nem buscar companhias. Temos que estaramos sós. Por mais paradoxal que isso possa parecer é justamente na solidão que devemos curá-la. Sentarmos quietos, e começar a tirar pra fora da nossa vida tudo o que tentamos preencher no vazio da nossa existência. Quando fizermos esse balanço, descobriremos o porque nos sentimos sós. E dessa forma poderemos exercer a função pela qual somos capazes de cumprir – viemos a esse planeta com o único objetivo de sermos felizes. Não sós, não mal amados, não infelizes, não com situações carmicas. Quando assumimos o controle de nossas vidas somos capazes de sermos felizes. E para isso não necessitamos jogar nossas carência e nem tentar fazer jogos de afetos em carreiras para preencher o vazio de uma alma infinitamente feliz. Quando descobrimos tudo o que de bom temos, a solidão se dissolve, se transmuta. A natureza tem uma capacidade de se auto organizar e de se auto curar. Nós somos parte dessa natureza e adquirimos esse mesmo dom. Algumas vezes é necessário que nos dobremos como os bambús e em outros podemos ser fortes e orgulhosos como um carvalho. O que não podemos é ir contra a natureza – a solidão significa exatamente isso.

Fátima Pacheco
Enviado por Fátima Pacheco em 08/12/2007
Código do texto: T769948
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