PÁSSAROS MORTOS

Há alguns meses, o livro debatido no Clube de Leitura do qual faço parte foi O PESO DO PÁSSARO MORTO, de Aline Bei. Lá pelas tantas, alguém perguntou: quantas pessoas por aí carregam o peso de seus pássaros mortos?

Saí do encontro mais deprimido do que já sou, me perguntando: quantos pássaros mortos eu carrego? Quantos sonhos que não realizei? Quantos medos eu trago n’alma? Quantas vezes me anulei para atender o desejo de outra pessoa? E principalmente: quantos pássaros já matei nessa vida?

E não estou falando de pássaros físicos, pois não lembro de ter matado nenhum passarinho mesmo quando tinha bodoque: minha pontaria era péssima e meu dó dos bichinhos sempre foi maior do que minha crueldade.

Estou falando das pessoas que magoei sem querer ou querendo, das coisas erradas que já fiz e ainda faço. Quantos sonhos meus alguém matou, mas quantos sonhos dos outros eu assassinei?

Quanto deixei de viver por medo ou acomodação? Acredite quem quiser, apesar da minha ostentação há algum tempo nas redes sociais, quase morri virgem como a minha tia Olga, já abordada num texto anterior. Precisou vir uma namorada de Belém do Pará pra tirar meu cabaço. E não é desdém pelas fêmeas da minha terra: sou um zero na arte da conquista, mas nas redes sociais já fingi muito bem.

Da paraense pra cá, namorei um pouco, mas nem tanto assim: quanto tempo perdi me achando o Patinho Feio? E não que eu seja um galã, mas tem tanta gente mal farquejada por aí se dando bem... Por que não eu?, já perguntou a Paula Toller, que por sinal é linda.

Sem dúvidas carrego o peso de meus pássaros mortos. Mas eles são só meus, pois cada um carrega em si o dom de ser capaz de ser feliz, como já disse o Almir Satter. Só que o Claiton Scherer acrescenta que cada um carrega seus medos e frustrações. Conviver com os dois é coisa que ainda estou aprendendo, apesar de não ser mais tão jovem assim. Mas como também disse o Mário Quintana, "nem todo mundo pode estar na flor da idade, mas cada um pode estar na flor da sua idade." E eu não quero deixar de acreditar que ainda não é tarde demais pra permitir que meus pássaros não morram na palma da minha mão, mas alcancem os céus da auto estima e realização.