A desconhecida Vigário Sarlen
A Academia Paraibana de Letras não vive somente a se preocupar, como conduta única, com coisas das letras, com esmero ortográfico, com metáforas e imagens, ao escrever as suas obras. Tampouco somente a admirar a literatura que já foi escrita ou a que está contida na sua renovada, em madeira de lei, rica biblioteca. Muitos dos acadêmicos, há tempo, ocupam-se com a história e a memória da cidade, onde vivem; do bairro no qual se situa sua Academia, logradouro denominado de Centro Histórico; da Praça Dom Adauto, das ruas Vigário Sarlen à Duque de Caxias, que contornam a APL, ou mais precisamente a casa que abriga essa preciosa entidade, que tanto fascínio tem causado aos intelectuais, principalmente aos dedicados ao mundo da literatura. E que também tem emprestado o exemplo, que tomou para si da Academia Brasileira de Letras, a outras cidades e categorias profissionais das ciências para formarem suas próprias academias.
Na morada acadêmica em “taipa real”, cuidamos do seu piso, das suas grossas paredes, das suas galerias, das suas antigas portas e janelas, da sua biblioteca, do memorial, da sua pintura, do seu antigo telhado e de lhe colocar uma imponente estátua do ímpar poeta Augusto dos Anjos. Tudo isso, sem descuidar dos seus velhos móveis, das suas iluminação e decoração, até mesmo da acessibilidade e jardinagem. Tanto é assim que, sem publicidade, a APL, no ano de 2018, foi visitada, supreendentemente, por paraibanos, estudantes e turistas, que registraram presença, no livro de visita, como mais de onze mil assinaturas. Mas, de longe, ela gritava duas constantes reclamações: A primeira é a de que o auditório deveria ser maior e no térreo; a segunda, a ampliação do Memorial Augusto dos Anjos, também que, não obstante sua beleza, ao lado, a rua Vigário Sarlen afeia seu entorno, e na Praça Dom Adauto, com ruínas que ameaçam os transeuntes e os que ali moram, temendo-se o permanente risco de desabamento. Muitas solicitações se sucederam a vários governadores, mas os pedidos de providência vinham sempre sendo protelados.
Em 2018, Gonzaga Rodrigues, Itapuan e eu, como Presidente, já cansados de pedir, redigimos e assinamos, com outros confrades, ofício ao então Governador Ricardo que determinou-se a dar encaminhamento ao Processo desse “histórico” problema. Esse compromisso foi assumido pelo atual Governador, em 2019, no Auditório da Fundação Casa de José Américo em resposta ao nosso discurso. Também João Azevêdo tornou público, logo depois, em entrevista ao Conexão Master, reafirmando que entregaria tais casas em ruína à APL para que, recuperadas, elas se incorporassem ao patrimônio da Academia, iniciando assim cirurgia à fisionomia do Centro Histórico, que se demonstrava, principalmente aos turistas, tão descaracterizada. Tal boa nova alegrou os acadêmicos que, agora, em 2023, com o atual Presidente Ramalho, agradeceremos o ponderoso e generoso feito do Governador João Azevêdo, tanto para a memória, como para o embelezamento da nossa histórica cidade, bem no coração da terceira cidade mais antiga do país. Compromisso esse que ele demonstra que ele não promete, mas compromete-se e cumpre, desapropriando pelo Decreto 43 355, de 4 de janeiro de 2023, na Praça Dom Adauto e em toda lateral da Vigário Sarlen, as casas acima citadas.
Tal atitude governamental entra para a história, assim também como a criação do Museu da Cidade de João Pessoa, na então residência de João Pessoa, na Praça da Independência; e ainda a abertura do Palácio da Redenção, para um rico Museu do Estado, à visitação pública. Enquanto João vai à Rua Vigário Sarlen e à Praça Dom Adauto, leva consigo providências em benefício do Centro Histórico. Idêntico modo, aja a Academia no trato com o que lhe é doado, manifestando nossa imortal gratidão. A Vigário Sarlen será reconhecida...