A atualidade de Étienne de La Boétie
Étienne de La Boétie (1530-1563), foi um humanista e filósofo francês.
Com apenas 18 anos de idade escreveu Discurso da Servidão Voluntária onde faz uma análise política sobre a obediência.
Ainda tão jovem, Étienne se mostra incrédulo diante do comportamento subserviente das populações e indaga: “Mas, ó bom Deus! Que fenômeno estranho é este? Que nome devemos dar a ele? Qual é a natureza deste infortúnio? Qual é o vício, ou melhor, qual a degradação? Ver uma infinita multidão de pessoas não apenas obedecendo, mas levadas ao servilismo? Não governada, mas tiranizada? Estes infelizes não têm riqueza, nem parentes, nem esposa, nem filhos, nem mesmo a própria vida que eles podem chamar de sua. Eles sofrem pilhagens, arbitrariedades, crueldade, não de um exército, não de uma horda bárbara, por causa de quem devem derramar seu sangue e sacrificar suas vidas, mas de um único homem; não de um Hércules ou de um Sansão, mas de um único homenzinho.”.
O que diria ele se pudesse ver que passado quase 500 anos, muitas populações ainda se entregam aos delírios, não de monarcas, mas de políticos e seus comparsas que fazem o que bem entendem com o país?
Seguindo a linha de questionamentos que Étienne faz em seu livro, algumas perguntas, além das formuladas pelo autor, nos vem a mente:
- que estranho prazer é esse em que indivíduos subjugados e sofrendo de carências materiais parecem se sentir felizes com o luxo e a soberba de seus algozes?
- como pessoas que se dizem cristãs esquecem ou ignoram lições de seu livro mais importante, a Bíblia, quando ela diz, “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6:12) e “Como o que arma a funda com pedra preciosa, assim é aquele que concede honra ao tolo.” (Provérbios 26:8)?
Aos tiranos interessa que seus escravos lutem entre si, os que os apoiam contra a minoria que se opõe a eles, se distraindo com relação ao seu verdadeiro inimigo.
Como atualmente a tirania é imposta via voto e não com armas, ao direcionar seus votos para os que não o merecem, é como se os eleitores estivessem “armando a funda com pedras preciosas” ou “jogando pedras preciosas num monte de cascalho”.
Causa-nos tristeza pensar que “Estes infelizes não têm riqueza, nem parentes, nem esposa, nem filhos, nem mesmo a própria vida que eles podem chamar de sua.”, porque tudo pode lhes ser tomado e sempre “por uma boa causa”.
Que melhor causa pode existir do que ter liberdade de agir, pensar e falar, usufruir dos frutos do nosso trabalho e não viver na frustração de pensar que “o pouco que tenho devo ao meu “benfeitor””?
O tirano dorme tranquilo não quando tem que recorrer a força para subjugar a população, mas quando ela mesma tenta justificar a “navalha que rasga sua carne”.
E na impossibilidade de encontrar explicações para esse comportamento autodestrutivo, podemos recorrer a mais um ensinamento bíblico: “O açoite é para o cavalo, o freio é para o jumento, e a vara é para as costas dos tolos.” (Provérbios 26:3).