A vida é feita de lembranças

Jandira, sentada nos jardins de sua casa gosta de ficar lembrando do passado...

Na minha infância, além do sol, da lua e das estrelas que sempre me encantaram, aquela farta alegria de viver, fizeram de mim a dona desse meu olhar de esperança, do verbo esperançar, que me faz entender o real sentido da vida. Sou Jandira desde que nasci. Nome que minha mãe, Paula, escolheu para que me chamassem assim. Astolpho, meu pai, partiu quando eu estava com dois anos mas, imaginem, ainda me lembro de quando ele sentava comigo no colo, sob a frondosa mangueira no quintal de casa, para proteger-me do sol. Em casa éramos oito irmãos , sendo eu a caçula, o restinho do tacho. A seguinte era a Cecília, brincalhona, travessa mas, não mais que eu; Depois a Iara, que sempre me livrou das surras, pois entrava no meio e dizia pra nossa mãe "não faça hoje o que pode fazer amanhã!"... Arlinda, que era a nossa Linda, que foi minha segunda mãe e me cuidou, desde que nossa mãe fora pra outro patamar de vida e eu ainda era menina .. Therezinha, a Tequonha, era bem tranquila. Mais tarde, ela com o João, trouxeram ao mundo meus lindos,queridos e encantadores queridos sobrinhos. A Esmeralda, o Tião e o Valter, o mais velho. Nossa vida se resumia em Honório Gurgel, Bento Ribeiro e Marechal Hermes, subúrbios do Rio de Janeiro onde também moravam nossos tios e primos tão queridos. Creiam, eu era feliz e, pasmem, eu sabia! A vizinhança era a extensão da nossa família. Tia Dinorah e vó Esther eram mãe e avó da Ditinha, mas eu sentia que também eram minhas ! Lembro que sempre que eu precisava sair, ia, toda prosa, com o vestidinho e os sapatinhos da Ditinha, minha amiguinha querida. Nossa vida é feita com flashes das lembranças, nem sempre tão boas . Ainda hoje, ao longo do mesmo dia, posso me sentir aquela menina de seis, sete anos, que esperava ansiosa o Mário, na época noivo da Teca, chegar e me levar pra uma volta de sidecar... Ou a adolescente, de doze,treze anos, Johndira Milk Lennon, que tinha os Beatles n'alma e era fã de Jemmi Handrix, Aretha Camile ou ainda a moça de dezessete anos, que nos bailes se esbaldava em dançar com todos aqueles que levantavam o dedinho, mostrando ser o da vez. Afinal, agora, não sei quantos anos eu tenho pois os que tinha acabei de perdê-los há pouco.

O que me faz acordar cedo ainda é a vontade de viver! Desde sempre gostei de escrever crônicas, poesias, compor música, sou movida à música. Tenho inveja daquelas senhoras que, diante das lojas que vendem discos, hoje cds, esbaldando-se

ao som dos ritmos variados. Um dia hei de imitá-las! Talcez a melhor invenção da história. O mundo não existiria sem música! Quisera ter aprendido a tocar algum instrumento musical.. Meus olhos brilhavam quando da janela, espreitava Soraia, minha vizinha, com o acordeom, a tiracolo, indo pra aula de música. Certo dia, quando meu irmão chegou em casa com um amigo e um violão, meu coração saltitou. Quando o amigo foi embora e precisou deixar o violão em nossa casa e só o pegaria quando retornasse, fiquei a imaginar coisas !' No dia seguinte, logo cedo, quando meu irmão saiu para o trabalho, pulei da cama, troquei de roupa, penteei os cabelos, passei minhas mãos devagarinho na capa que envolvia aquela maravilha de violão ... Envolvi todo o apetrecho em meu corpo franzino e " pernas pra que te quero ? ". Dei muitas voltas por todo o bairro de Quintino, indo pra aula de violão, imaginária!

Jandiel

Jandira Leite Titonel

jandiel
Enviado por jandiel em 18/01/2023
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T7698038
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