Das Minhas Lembranças 49
O que me levou ao rompimento com a disciplina da escola agrícola está escondida em algum canto do cérebro. Talvez seja pela fidelidade ao meu grupo de colegas, que exercera alguma influência sobre mim; talvez pela minha essência rebelde; talvez também, pelo meu senso de justiça; talvez ainda por informações precárias, devido a ditadura, de que havia, por parte dos estudantes, nas capitais, resistência ao regime de exceção.
Aconteceu em duas ocasiões de eu ser punido com suspensão e mandado passar uns dias em casa. Obviamente que achei injusta tais punições. Eu me lembro da ordem do diretor no quadro de aviso me expondo ao corpo docente e discente. Ao final do aviso sobre os motivos da punição estava escrito, em caixa alta: cientifique-se e cumpra! Assim, sem chances de defesa. A minha primeira suspensão se deu por eu ter respondido "grosseiramente" ao responsável pela limpeza do dormitório, quando pedi a ele permissão de entrar no dormitório (esquecera um material escolar), que ficava fechado a entrada de alunos durante a limpeza. Uma advertência, creio, seria suficiente. Uma suspensão poderia me levar a outra, do meu pai. Acho que não fui advertido pelo meu pai por causa de minha irmã, freira, que saíra de casa lá pelos treze anos, para um internato de freiras. Alaíde, ao se tornar freira recebeu o nome de Maria das Neves, irmã Maria das Neves.
Na segunda suspensão, não me lembro o motivo, fiquei hospedado na casa de um colega, em Governador Valadares. Não me recordo se meus pais ficaram sabendo. Me hospedei justamente na casa de um colega em que dera um murro em seu rosto e ele caíra no chão. Ao se levantar quase caiu de novo, zonzo. Esta reação violenta me levou a refletir sobre o meu temperamento. Mas esse evento foi abafado, não chegando aos ouvidos do diretor.
Uma terceira suspensão me levaria a expulsão do internato agrícola. Conto tudo na próxima narrativa.