FÔIA DI FIÓFI - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros.

"FÔIA DI FIÓFI" - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros..

- Eu tenho curso do tilogra, dotô.

- Ti o quê ?

- Tilogra.

- Mi logra oscambau !!! Ninguém me logra neste departamento !

- Com licença - era o delegado - ele tem o curso de datilografia... e acho que você não sabe bem o significado de lograr: é exatamente o contrário do que você está pensando... é obter sucesso em alguma coisa, seu... deixa pra lá.

- Si formei no séclu passadu.

- Ora, bolas - continuou o agente - como é que eu vou entender essa... essa gentalha com um linguajar tão... esquisito ?

- Sendo mais sensato e coerente com a linguagem popular. Pelo menos ele sabe que, no século atual, a máquina de datilografia tornou-se um fóssil.

- Fó o quê ?

- Fóssil, querido. Aliás, você poderia ouvir mais e falar menos, sendo mais... humilde, caro... subalterno.

- Assim o senhor está me ofendendo...

- Ué, se você fosse meu chefe, eu seria seu subalterno, como sou subalterno do Secretário de Polícia e ele, do Governador.

- Podo ir, dotô? - era o cidadão sob custódia.

- Por mim... - era o delegado.

- Ele foi pego roubando ! Como pode ir?

- A condução da ocorrência é sua. Ele roubou o quê ?

- "Fôia" - respondeu o acusado.

- O que é... "fôia" ?

- Folha, detetive.

- Folha de quê?

- De papé tuaia.

- ?

- Papel-toalha.

- E pra que... papel... toalha ?

- Pra módi limpá us fiófi.

- Fiófi! Que raio é isso ?

- Ânus.

- Ânus ?

- Não vá me dizer que não sabe o que é ânus ?

- Ah... ânus... entendi. Mas... o que é que tem a ver o... ânus... com a calça ?

- Dotô, eu num seio o qui é ânus. Podia me expricá "meió"?

- É... é o seu...

- Agente... olhe a postura.

- ...tudo bem... tudo bem. O senhor queria higienizar o... "fiófi" com o papel-toalha alheio ?

- Ingenuizá u quê? ... alieio u quê?

- Assim não dá !!! ...o senhor quis limpar-se com papel-toalha roubado !?

- Num foi bem ansim.

- E como foi então ?

- Bem, eu pedi pra ir na casinha...

- Casinha de quem ?

- No banheiro, detetive.

- Ah, tudo bem. E aí ?

- Aí qui eu tava cumas caganera das braba e num tinha papé de limpá "fiófi".

- Então...

- Entonce, na primera dispensa mais perta du mercadu, eu vi u rôlu e peguei um. Puxa, dotô, que beleza di papé. É miô qui "fôia" di taioba. Passei nus fiófi umas três veiz.

- Que dizer - interveio o delegado - o senhor higienizou-se umas três vezes com o papel-toalha do mercado ?

- Isso mêrmu.

Quer saber de uma coisa, agente ? Solte esse cidadão que só limpou o... "fiófi".

- Soltá- lo ? Mas... este é um flagrante de furto qualificado.

- Ah... multe o gerente do supermercado e... pare de usar o papel-toalha da delegacia senão eu lhe dou voz de prisão !!!

- Doutor... posso fazer uma pergunta ?

- Faça-a.

- Se ele não sabe nem falar direito a nossa lingua, como tem curso de datilografia ?

- Simples: ele logrou-se.

- Lo o quê ?

- Ora, agente... vá limpar o "fiófi", pô !

...

Às 14h e 53min do dia 3 de janeiro de 2023 de Cabo Frio - RJ . Registrado e PublIcado no Recanto das Letras.

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