O RIO VAI VIRAR SERTÃO
Levanto cedo, desligo o aparelho de ar condicionado, abro a janela e olho para cima, esperançoso. Qual! Céu de briga- deiro (será que alguém ainda usa esta expressão?). Nem uma nuvenzinha cor-de-rosa para animar. Já faz tempo que não cai uma gota de chuva nesse Rio de Janeiro. Os noticiários de TV cansam de registrar chuvas em São Paulo. Por aqui, nada...Será que alguma passeata bloqueou os céus e está impedindo a chuva de vir para cá? Será que São Pedro não está gostando da perspectiva de foguetório para a próxima Copa do Mundo, que viria competir com seus raios e trovões, punindo-nos por antecipação? Ou será que a Prefeitura não pagou a conta da água e São Pedro cortou a chuva para cá?
Pensei numa dança para atrair chuvas, como faziam os índios de outras eras. Não ia dar certo. Nem temos mais índios por estas bandas e o apelo ia ser muito fraco. Será que algum jovem de hoje já ouviu falar em dança da chuva? Vai ver que algum saudosista criou um joguinho eletrônico de tiros e bombas, ao fim do qual o vencedor ganha um toró e alguns pontos no cômputo geral. Sem graça, não?
Tenho cantado Chove Chuva, do Jorge Benjor (quando ele fez esta música ainda era Jorge Ben), mas sem resultado. A Chuva Caiu, interpretada pela Ângela Maria (alguém sabe quem é? Ela foi rainha!) também não surtiu efeito. Esforcei-me para ver se me lembrava de alguma oração (dos meus tempos de católico) que invocasse a descida de água dos céus, mas nada me ocorreu. O Dilúvio, não! Sem exagero!
Depois de muito matutar (êta palavra velha!), voltei-me para uma canção de apelo poderoso: Promessa é o seu nome. Gente velha e nova gravou. Os versos iniciais diziam:
Senhor do Bonfim,
Teu filho plantou,
Mas o Sol inclemente no céu
Toda terra secou.
Pedi pra chover, pro verde voltar
E até hoje ainda estou esperando
Esta chuva chegar...
Etc. etc.
Resolveu? Adivinha? Não sei o que mais rezar. Como ainda estamos em janeiro, creio que de nada adi- antará cantar Águas de Março.
Resta torcer para que o Tom Jobim, sentado ao piano numa nuvem cor-de-rosa consiga, com seus acordes melodiosos, tocar o coração de São Pedro, convencendo o Chaveiro do Céu a mandar um pouquinho que seja de chuva pois, se alguma água não rolar logo por aqui, o Rio vai virar Sertão.