Crônica depressiva

Ela me vem assim (vou chamá-la de D) - sorrateira, covarde e imprevisível causando rebuliços, tormentas e tempestades na minha cabeça. Seu sangue amargo provoca disritmia no meu coração, convulsões nas minhas veias e uma menstruação mental que dura vários dias.

D é uma cachorra no cio com mais de mil e trezentas males intenções. É uma amante, não amada, que me trai, me fere o peito e a alma e depois vai comemorar. Não me mata porque pra ela eu só sirvo vivo, mas arranca minhas etiquetas me deixando sem preço, sem nenhum valor.

Me vejo num emaranhado de cordas, estampidos e pulsos dilacerados, submerso em mim, num abismo estúpido, telepático e hipnótico.

D é fria, calculista, trágica, dona de vários abismos. Ela me põe um sorriso amarelo e frio nos lábios e sorrir também ao ouvir você dizer que é tudo frescura.

Não adianta teu sorriso ou tuas rezas. Se não volto por mim, não tem como alguém me fazer voltar.

Se morto D vai ao meu velório e aos ouvidos dos enlutados ela sussurra: "E vocês diziam que era tudo frescura. O próximo pode ser você".

Luiz Dezenove
Enviado por Luiz Dezenove em 17/01/2023
Código do texto: T7697031
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