Gambiarras

Os fios soltos na minha cabeça indicam perigo, um estado de curto se aproxima.

No fundo, me resumo a um emaranhado complicado de problemas e ansiedades, correntes elétricas percorrem o meu corpo o tempo todo, é a vida tentando me dar uma revigorada, talvez até me alertando da necessidade de uma reação.

Me remexo na cama. Os últimos dias têm sido intensos, aparentemente, ignorar as coisas que me afetam não me fez bem, apenas postergou a minha dor.

Já cheguei a cogitar que gosto de sofrer, que eu sou tão desinteressante ao ponto de arrastar meus problemas só para reclamar sobre, para sentir alguma coisa.

Mas chega a hora do curto, o momento que o fogo toma conta de tudo, a sanidade já não basta para conter um ano inteiro de meias verdades e palavras não ditas, de choros não chorados, abraços não dados.

O arrependimento, na realidade, mata sim a vontade de seguir em frente, deixa os meus pés acorrentados numa gama de instalações delicadas.

Se ao menos pudesse me ver livre de todos os pensamentos ruins, se tudo estivesse em ordem dentro de mim, o peso de carregar as minhas culpas fosse menor, mas enquanto permaneço remendada a energia jamais será bem armazenada, estarei sempre em pane.

Com o tempo, fui fazendo gambiarras frouxas com intenções duvidosas, evitando tudo aquilo que é ardiloso, fingindo que o mundo se resume ao fio raro de alegria dentre as minhas doidices, falo complicado e penso pior ainda.