QUANDO O CANSAÇO SE INSTALA...

Era a última semana do ano, o corpo, a mente, a alma mostravam-se fadigados. De fato, tinha sido um ano bastante desafiador, com muitas metas a cumprir em prazos extremamente curtos, isto, em todos os vieses do meu cotidiano, desde o trabalho, perpassando pela literatura, desembocando nos afazeres do dia a dia.

Era concreto perceber que as coisas naquele momento andavam mais agitadas e apressadas que nos anos anteriores, ou, talvez, o tempo tenha se encarregado de amenizar, nas minhas lembranças, as urgências dos tempos pretéritos, nos dando a falsa sensação de que os perrengues vividos tenham sido cafezinhos pequenos comparados aos desafios atuais.

Sabendo muito bem quem sou, ou pelo menos achando saber quem fui, e sou, levo comigo a incerteza de quem serei com a certeza do que não quero mais ser(ter) nos tempos que ainda me restam. É sobre isso, é sobre cansaços, fadigas, decisões, focos, paz, felicidade, leveza e amor.

É sobre o peso da bagagem, sobre o que nos cansa e não nos acrescenta. Sim, ando meio cansada, ou melhor, ando muito cansada com as malas que tenho carregado. Algumas decisões devem ser tomadas para aliviar os excessos de peso que tenho acumulado ao longo dos anos. Pois bem, disso eu não tenho a menor dúvida.

Quais decisões tomar, como e por onde começar? Como diria um colega de trabalho: “comece pelo início do princípio”. Rever as metas que nunca foram cumpridas já é um bom começo; para isso, é necessário não perder o foco, fazer alguns sacrifícios que valerão a pena, afinal, os propósitos são dos melhores: qualidade de vida, busca pela paz espiritual, desprendimento das materialidades fúteis que nos desviam daquilo que realmente vale o viver.

Acho que, além de ser pelo legado, é sobre o agora, de como estão pautados os dias que tenho discorrido no livro da minha vida, sobre as lacunas amontoadas nos capítulos anteriores, das folhas em branco que não conseguiram ser escritas por fraqueza, covardia ou medo. Quem vai saber?

É sobre os próximos episódios deste livro torto e mal escrito, cheio de drama, tensão, comédia, aventura e romance. Uma salada com todos os gêneros, tudo junto e misturado, o típico dramalhão mexicano. Bom, o fato é que existem cansaços, no plural, com os seus mais diversos sinônimos: fadiga, canseira, estafa, fraqueza, exaustão, extenuação, prostração, esgotamento, prego, quebreira, quebramento, quebrantamento, moedeira, esfalfamento, estafamento, descaimento, lassidão, lombeira, astenia, stress, estresse.

Acho que ando fastiosa das coisas que me empanturram... Bingo! Começar pela dieta, é isso mesmo!

Bora cortar da alimentação da alma as amizades infrutíferas, as dores desnecessárias, os amores não correspondidos. Do que alimenta o corpo, podemos diminuir os açúcares e gorduras associados aos exercícios físicos que nos trazem mais disposição para enfrentar os combates do dia a dia

Depois de colocar a dieta em prática, fortalecendo o corpo e a alma, é hora de arrumar as gavetas; limpar os armários; agendar a primeira reunião do ano com o setor que trabalho; fazer as contas do mês; ler os livros que estão sobre o criado mudo desde o ano passado; trocar o carro; fazer o almoço de domingo.

Vou cuidar em contar no calendário os dias que faltam para a chegada da filha caçula - que há tempos “ganhou o mundo”, em busca de um mundo melhor para todos; aguardar o dia da formatura do filho do meio - além de pedir e seguir seus conselhos; apoiar, incondicionalmente, o filho mais velho em todas as suas decisões, amparando e dando base para que ele possa avançar nos eventos que estão por vir.

É que é hora de diminuir o ritmo das coisas que nos cansam e nos roubam energias. É hora de aprender a dizer “não”, ligar o play na urgência de viver o que é leve e livre, nos libertando das fadigas e enjoos que nos desgastam e atrasam nossa caminhada. Eu preciso me escutar.

Flávia Arruda
Enviado por Flávia Arruda em 16/01/2023
Código do texto: T7696396
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