Dança Comigo?
Nos tempos passados era tudo tão diferente dos dias de hoje.
Havia o romantismo, havia o respeito.
Olhares de cumplicidade ou de puro encanto.
Quanta magia vivemos na década de 1970!
Nesta cidade, que era bem menor e mais pacata que hoje, os encontros e diversão eram na praça central.
As paqueras, os olhares, os encantos dos encontros. Tudo começava ali naquela praça.
Depois do encontro, quem sabe uma sessão de cinema ou conversas, abraços e beijos em um banco da praça mais afastado do movimento.
Depois o rapaz acompanhava a garota até sua casa. E um último abraço e um beijo de despedida.
Novos encontros marcados, início de um namoro.
E as serenatas? Ah! as serenatas…
Quanto encanto, a surpresa de acordar a amada no meio da noite com lindas músicas debaixo de sua janela. Ouvir aquelas serenatas e saber que ali ficaria uma rosa era realmente adorável. Quanto romantismo, quanto enamoramento.
E os bailes no principal Clube da cidade. Ah! os bailes…
Alguns eram mais esperados que os outros. Mas todos eram muito bons.
Os preparativos para o baile que muitas vezes era de gala. A roupa, o cabelo, a maquiagem. Tudo muito bem escolhido.
As mulheres de vestidos longos, cabelos impecáveis, maquiagem esmerada. Os homens de terno, camisa social e gravata, muito elegantes.
O Clube cheio, a banda tocando.
Aqueles encontros que não ocorreram na praça podiam muito bem ocorrer ali. Os mais tímidos ou menos corajosos tinham ali um bom pretexto pra se aproximar daquela que cativara seu coração:
-Dança comigo?
E quando a garota esperava também ansiosamente por aquele convite o coração disparava, as pernas tremiam e lá iam os dois rodar pela pista de dança. O discreto toque dos corpos, a mão no pescoço, a mão na cintura, a mão nas costas. Os mais ousados dançavam coladinhos e a sensação era de arrebatamento.
Quando os dois estavam querendo se conhecer passavam o baile todo juntos. Que ternura e delicadeza havia naqueles encontros. E quem sabe dali começaria um namoro?
Quando a garota só tinha aceitado o convite por educação dava um jeito de sair logo fora daquele par que não lhe agradava.
E quando não vinha o convite “Dança comigo?” daquele que a garota esperava era uma frustração.
Algumas garotas tomavam um “chá de cadeira” ou seja não recebia durante todo o baile o famoso convite: “Dança comigo?”
Terminado o baile cada um voltava para sua casa. Uns esbanjando felicidade e com a promessa de novos encontros, outros frustados, outros tristes, outros ainda na esperança de sucesso nas paqueras. Mas o baile era sempre um sucesso.
No final da década de 1970, as coisas começaram a mudar. Os barzinhos tomaram o lugar da velha praça.
Mas tinha a mesma magia dos encontros. Os jovens que vinham de outras cidades para estudar na universidade da cidade, fundada em 1965 e que se expandia a cada ano, começaram a se misturar com os jovens da cidade nestes barzinhos e era uma festa. Muitos namoros e casamentos saíram desses encontros.
A década de 1980 também teve seus encantos.
Mas o tempo foi passando e os costumes mudaram tanto. O modo de viver mudou. Encontros e desencontros banalizados. Namoros de cama e mesa. Tudo tão diferente.
Acredito que cada época tem seu encanto.
A evolução do mundo e dos relacionamentos tem muito de positivo. Principalmente para a mulher que se libertou de tantos preconceitos e se tornou dona de si mesma para decidir sobre sua vida profissional, e sobre como conduzir seus relacionamentos.
Mas aquele encanto da praça, dos bailes e das serenatas ficou eternizado na memória de quem viveu aquela época.