ESTUDAR LATIM
Magro, impecavelmente vestido e de cabelo engomado, estatura alta, pelo menos para nossos patrões de pré-adolescentes aos 11 anos de idade, o Professor com o braço estendido em nossa direção saudava a classe e nós respondíamos em coro:
- Salve discipuli – (olá, alunos)
- Salvete magister – (bem vindo, professor)
Respondíamos mecanicamente sem entender o significado daquelas palavras, parecidas com o nosso Português incipiente.
O livro, – Ludus primus - fininho se comparado aos demais ou ao dicionário da língua, trazia a historinha de um fulano, com frases como:
- quam invitate advenerunt iam parata eram (quando as visitas chegaram já estava preparada);
- cum sorore Julia fuit (foi com a irmã Júlia).
Que para nós não fazia o menor sentido, principalmente pelas desinências que alteravam a forma de escrever o vocabulário distribuído em três declinações diferentes e com a introdução do gênero neutro no nosso universo onde só haviam palavras femininas e masculinas.
Como eram tolos e complicados esses habitantes do Lácio, bastava colocar um E no final de qualquer palavra que, sem quaisquer complicações, ela viraria neutra como pregam os ridículos imbecis da atualidade...
Aprendemos os números, a oração do Pai Nosso, a fazer operações em algarismos romanos e a cantar o Hino Nacional.
Audieruntque quod placidas Ipiranga ripis
Heroicae gentis validum clamorem,
Solisque libertatis flammae fulgidae
Sparsere Patria in caelos tum fulgorem.
Entretanto nunca nos foi evidenciada a importância de conhecermos a língua mãe da que falamos, de que aquelas desinências torturantes eram as classes gramaticais e que o fato de as dominar tornaria “mamão com açúcar” a análise sintática que era o “bicho papão” do ano seguinte.
Salve Lectores.