O ABRAÇO DE DEUS

Imagine estar participando de um culto a Deus em meio a uma multidão de centenas e centenas de pessoas, distante e escondido lá atrás, cabisbaixo e calado, ar de tristeza no semblante em virtude de vários problemas que atormentam sua mente e lhe tiram a paz, as lágrimas teimando em fluir enquanto a preletora faz a pregação da palavra divina.

Tente imaginar-se solitário ao lado de tanta gente fervorosa, a maioria orando, muitos gritando amém, glória a Deus, aleluia a Deus e o ar se enchendo da plenitude de fé e devoção, gente chorando de emoção ao lado de outros dançando, falando línguas de anjos e dizendo louvores em outros estranhos idiomas, um clima de gratidão e demonstração e prostração difícil de definir espalhando-se no enorme salão lotado.

Agora perceba a tamanha impossibilidade de cogitar que nesse ambiente de pregação evangélica magnífica eu poderia não ser contagiado pela agitação religiosa nem embarcar no encanto mais que mágico do momento, embora assim acontecia não por falta de fé, mas por causa das amarguras porque naquele instante eu passava, e mesmo então ocorrer algo inesperado que mexeu sobremaneira com todo o meu ser.

A magnitude do fato me surpreendeu de tal forma positiva que posso afirmar quase ter flutuado, viajado, voado como um pássaro feliz, saído de mim mesmo e entrado num prazeroso universo nunca dantes visto nem sentido, transformando minha noite de sombria em iluminada e feliz. Sim, indizível a felicidade que tomou conta de mim.

Tudo aconteceu, no momento em que a multidão prosseguia na euforia característica e própria desses encontros, quando a pregadora, descendo do púlpito enquanto seguia continuando a pregar, louvando com hinos e falando línguas estranhas, veio andando em passos decididos, passando por todos através de um enorme corredor formado pelos fiéis e, pasmem como atônito eu fiquei, e ainda que tanta gente exaltada no bom sentido estivesse ali, ela foi aonde eu estava - sim, eu, o mais silencioso, o mais acabrunhado, o mais atormentado - , parou em frente a mim e disse: " Deus mandou lhe dar um abraço!" E me abraçou como nunca antes abraço igual eu recebi. Através dela Deus me abraçou 🙏

Gilbamar de Oliveira Bezerra