Cidroca foi sepultado

O Cidroca foi sepultado, com ele parte de nossa história e, quando digo nossa, me refiro a nós, familiares e, em especial o monte de amigos que ele conseguiu conquistar ao longo de sua vida.

No velório estava apenas uma pequena , mas, significativa parte, de todas as pessoas que interagiram com ele ao longo de sua existência.

Como é comum em todos os velórios, a gente percebia cada olhar e, todos eles refletiam um pouco do que seus pensamentos estavam produzindo naquele momento em que se deparavam com aquele corpo inerte, calmo e tranquilo.

Mesmo tendo participado e/ou tomado conhecimento de muitas mortes, alguns ficavam perplexo com sua existência.

O Cidroca aos 66 anos de idade, morando numa das mais populosas capitais do Brasil, com toda sua boa conversa e bom conhecimento sobre os fatos do mundo, nunca usou computador, nem sequer o simples Whatsapp ele ficou de frente, sem que outras pessoas pilotassem o bicho pra ele.

Gostava de rádio e TV aberta, pra ser mais preciso, eram esses elementos que faziam companhia pra ele a grande maioria do seu tempo, mesmo no momento em que dormia.

O bairro Antônio Bezerra era seu lugar, nasceu em São Luís do Curu, mas, dizia que tinha nascido no Paracuru. Nesta cidade ele viveu parte de seus bons momento, em especial nos períodos de carnaval.

Sua rotina de alguns anos era muito simples, descia pela rua da feira e, nos bares de amigos, em especial da figura conhecida como "Bodim", ele passava parte de suas horas conversando muito, entre um trago e outro.

Tinha amigos de fé e irmãos camaradas, tinha uma fala forte e incisiva, mas, era amigo e gentil, na sua forma bruta de muitas vezes agir.

Ele não se corrompeu com a modernidade, nem muito menos com os castelos que havia construído em sua cabeça até o final de sua juventude.

Certamente que falhamos com ele e, que a recíproca é também verdadeira, não que isso tenha sido de forma proposital ou de forma deliberada, mas, por uma série de fatores que não tem mais valor neste momento e, porque nem sequer sabemos em que momento isso aconteceu e nem muito menos o seu porquê!

Na sua despedida deixamos as coisas acontecerem no seu tempo e, com base nas boas ideias que foram surgindo, oriundas dos amigos que por lá estiveram para se despedir.

Uma ideia acatada, foi fazer o velório na sala de sua casa, na vila que ele tanto amava e que construiu toda sua história. Um dos amigos cobriu o caixão com a bandeira do Ferroviário, time cearense do coração.

Quando o cortejo com o seu corpo deixou a casa para o cemitério São João Batista, no centro de Fortaleza, mesmo fora da rota, desceu lentamente pela rua da feira, assim como ele fez por tantas vezes ao longo dos seus anos de vida, lentamente. Nas portas das casas e comércios, era possível ver a comoção das pessoas que sabiam do ocorrido. "Lá vai o Cidroca", "Vá com Deus" e outros ficavam olhando, paralisados em sinal de respeito e lamento.

Foi possível ouvir, ao passar por um barzinho no caminho, o dono dizendo para um cliente: "Ele não gostava de beber aqui, só no Bodim".

Eram manifestações simples, mas, de grande significado para todos que o conheciam. O cortejo circundou três quarteirões e, no comércio amigo, ouve um "buzinaço de adeus!".

Daí pra lá, o rito seguiu normalmente, seu corpo neste instante, já está prestes a completar 24 horas no leito definitivo.

E a vida segue seu curso natural, sem nenhum arranhão, sem nem sequer perceber as marcas que marcaram os muitos corações que sentem e sentirão a sua falta.

Este é um relato de sua partida, mas, de todo coração, espero que outro alguém esteja registrando sua chegada no novo destino, sem dúvidas, o relato de chegada será bem mais emocionante que o de partida. Ele era uma figura merecedora.

Sigamos na vida!!!

jrogeriobr
Enviado por jrogeriobr em 14/01/2023
Reeditado em 16/01/2023
Código do texto: T7694806
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