SOMBRAS NO CORCOVADO
SOMBRAS NO CORCOVADO
10jan23
Ainda me lembro da bandeira verde e amarela que balançava ao sabor do vento no alto do mastro daquela praça. Para vê-la tínhamos que proteger a vista do sol que brilhava por detrás, com a mão em concha sobre os olhos como em uma continência respeitosa ao símbolo da pátria.
Pátria amada, de verdes montes e de dourado subsolo. Pátria cujo povo e, somente parte dele, veio te reconhecer depois de mais de cinco séculos.
Pátria da criatividade e do medo ao colonizador. O medo nos fez criativos em transformar símbolos sagrados em objetos profanos para esconder o ouro e assim não ser tributado, era o santo do pau oco, que hoje tomou novas formas virtuais.
Acreditamos que os fins justificam os meios, quando os meios são empregados contra as injustas manipulações das verdades para proveito de poucos que querem muito. Poucos que nada merecem, pois, os meios utilizados não justificam os fins, afinal quem rouba de ladrão tem cem anos de perdão. Acreditamos em cartolas e caixas mágicas capazes de transformar pobres coelhos em pombas brancas nas penas, mas que lançam seus piolhos e excrementos sobre todos que passivamente olham para seus voos.
Criatividade movida por uma ingênua ansiedade que nos faz jogar por terra a verde esperança da longa espera.
Acreditamos em mula sem cabeça e nos deixamos dominar por ela. Acreditamos em ídolos que limitados por linhas laterais e de fundo fazem o coração pulsar e acreditar que a perfeição é uma meta defendida por um goleiro. Mas o goleiro é diferente e solitário e o solo onde pisa não nasce grama.
Mas somos a pátria do amor onde existe um pote de ouro no fim do arco-íris, e é lá que, como num grande supermercado, temos tudo a mão, pelo menos até passar pelo caixa.
Essa é nossa pátria, a pátria do nosso senhor, que no Corcovado nos mostra seus braços abertos para nos abraçar num fraterno gesto protetor, mas em tempos onde as tempestades se manifestam, as sombras das nuvens vedam seus olhos e os trovões não o deixam ouvir aqueles que imploram por suas bênçãos e por sua ira para expulsar os vendilhões do templo.
Geraldo Cerqueira