A rua

Eu vou para a rua! O que isso significa? Seria apenas sair de casa e colocar os pés no asfalto? Claro que não, é muito mais profundo do que isso. A explicação remonta a uma época em que ainda não havia asfalto. Quando chamávamos os sítios, as chácaras, de colônias. Um tempo que não volta, pois a infância não retroage. Eu estava lá, na colônia, e os adultos diziam "vou para a rua". A rua parecia algo mítico, algo mágico. A rua era o lugar onde a vida acontecia, e não, não estou falando de logradouros, nem de ruas, travessas ou avenidas. Estou falando da rua, a rua. A rua era o lugar onde a vida acontecia, onde ficava a escola, a padaria, a praça, a casa de cada um. A rua era um mundo à parte da colônia. É preciso esclarecer que a magia da rua só surgia quando estávamos na colônia, assim como a colônia só se tornava mágica quando estávamos na rua. Bons tempos aqueles, tempos de expectativas, da espera para a sexta-feira para poder ir para a colônia, e quando lá, sem luz, sem água encanada, só o mundo e o verde. A expectativa era ir para a rua. E assim, a vida progredia, até que eu cresci e a rua sumiu, virou cidade, e a colônia, apenas um sítio