O tiozinho da barra-forte
Axel Carion e Andreas Fabricius ficaram famosos não por tentarem bater o recorde mundial, percorrendo a América do Sul em 58 dias, mas por terem a infelicidade de divulgarem um vídeo em que, durante uma subida na Colômbia, foram superados por um senhor guiando uma simples bicicleta antiga. O vídeo viralizou de várias formas, menosprezando os ciclistas, arrancando risadas jocosas e supervalorizando a força inata do trabalhador colombiano. Mas não é bem assim.
De fato, uma bicicleta de R$50.000,00; tomar whey, fazer dieta, academia e depilar as pernas não farão de ninguém um campeão, mas trabalhar na construção e andar de barra circular também não.
Entendendo o que aconteceu com os europeus, chamados de ciclistas profissionais, quando na verdade são triatletas experientes, é preciso levar em conta a quantidade de quilômetros percorridos por eles, não só no fatídico dia, mas também nos dias anteriores. Pedalar longas quilometragens é exaustivo, mesmo com experiência. Longas distâncias, apesar de preparo e resistência, diminuem a força muscular, principalmente se a reposição energética não for suficiente. Qual a distância acumulada os jovens já tinham pedalado?
O senhor Luís subia sem ofegar, mas qual a quantidade de quilômetros ele havia pedalado até o encontro? Será que podemos comparar 10km com 100km? Mas o malicioso ainda afirma que o trabalhador traz consigo o cansaço do dia de labor; sim, o trabalho no campo é exaustivo, mas o tipo de esforço braçal para o ciclismo é um tanto quanto diferente, uma vez que sobre a bicicleta usamos as pernas!
Agora o fato mais determinante para o ocorrido: a altitude. Para quem vive ao nível do mar, pedalar em grandes altitudes é muito difícil. A frequência cardíaca se eleva muito e a dificuldade para respirar impedem que o atleta consiga desempenhar suas funções plenamente. Existem paliativos como o chá de coca, muito utilizado por quem vive em lugares de altitudes elevadas, como na Bolívia, Equador e Colômbia. Assim, um ciclista não acostumado com essa condição atmosférica não conseguirá desempenhar suas atividades normalmente, uma vez que, no ciclismo, a respiração é fundamental. E já que o bom brasileiro só conhece futebol e ignora os outros esportes, um exemplo dos efeitos da altitude é o uso de máscaras de oxigênio por jogadores brasileiros que vão disputar partidas de futebol em cidades como La Paz ou Bogotá.
Não quero desmerecer o senhor Luís e sua bicicleta com este texto, quero apenas esclarecer os motivos que levaram os jovens atletas europeus a terem as dificuldades mostradas no vídeo. As coisas no ciclismo não são tão simples como parecem aos olhos de pessoas de fora do esporte.
Alberto da Cruz, 13/01