LEITE QUENTE
A Cidade Industrial de Curitiba foi idealizada e implantada pelo então prefeito Jaime Lerner que foi, aliás, responsável por muitas das obras importantes para os Curitibanos, como o Parque Barigui, o Calçadão da Rua Quinze de Novembro e o sistema de transporte urbano moderno para a época, com as estações-tubos e os ônibus biarticulados, só para citar algumas. Tudo isso ocorreu nos anos 1970. Jaime Lerner era engenheiro urbanista, de idéias práticas e inovadoras.
Foi após a instalação da Cidade Industrial que vieram muitos executivos nacionais e estrangeiros para implantar e gerir filiais de multinacionais e outras empresas brasileiras e estrangeiras. Uma das que vieram da Alemanha foi a PFAFF, que fabrica máquinas de costura industriais. Seus executivos não falavam português e foi aí que comecei a lecionar nossa língua para estrangeiros. Dei aulas para duas famílias: Klaus e Immaculata Meilchen e seus filhos Melchior e Heidi. E ainda, Fritz e Gudrun Schwarzer.
Todos falávamos inglês e para nos entendermos, no começo, apelamos para essa língua. Como foram alunos muito atentos e aplicados, logo nos comunicávamos somente em português. Depois que já tinham uma boa base da língua, me atrevi a ensinar-lhes o Hino Nacional, cuja letra é difícil até para nós, com seu vocabulário rebuscado e frases complexas. Também trouxe para as aulas, letras de canções de nossa música popular: Roberto Carlos, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Tom Jobim e outros, com os respectivos discos para audição. Fizeram sucesso.
Certa vez o Sr. Meilchen me perguntou: Por que vocês escrevem leite quente e leem leiti quenti? Na verdade, no sotaque paranaense é leite quente mesmo, com ênfase na pronúncia do e final. Em outras regiões do país é que se pronuncia a terminação em e como i, no Rio de Janeiro é leitch quentch. Linguas não têm lógica e estão em constante evolução.
Eu, como sou catarinense, cheguei aqui falando leiti quenti mas já me rendi à pronuncia local...