Ataque à Jovem Democracia Brasileira
Mal acabaram os rituais e festejos da posse do presidente eleito, na qual o protocolo de passagem da faixa foi, grosseiramente e sem qualquer habilidade política, “dado de bandeja” pelo “presidente de saída”, para o eleito, com muita habilidade política, o utilizasse como símbolo do maior dos paradigmas da democracia; “o poder emana do povo”. Um grupo bem representativo da diversidade brasileira, gerada pela paternidade europeia, e pela dupla maternidade, a indígena (exclusivamente asiática para alguns e asiática e oceânica para outros) e a africana substituiu o protocolo tradicional e, literalmente, enfaixou o presidente.
Mal acabara celebração religiosa e festejos ao “Dia de Reis”, em que essa diversidade se expressa num sincretismo religioso e em eventos culturais, para celebrar a vinda dos reis Baltasar, Gaspar e Melchior, que reverenciaram e presentearam o recém-nascido, Mensageiro Divino do Amor.
Sim, mal acabaram essas duas celebrações: uma à democracia, à Republica gerida pelo ordenamento legal, representada pelo Estado de Direito Democrático; e a outra, praticamente uma continuidade da natalina, mas à brasileira; os prédios dos Três Poderes Republicanos foram invadidos e vandalizados em atos geridos por aquilo que resiste e persiste em toda nossa história, o “lixo recalcitrante das civilizações”, “o maior dos sabotadores do amor”, a violência.
O roteiro do populista Trump, nos Estados Unidos, foi copiado com louvor. Diria que foi aperfeiçoado, pois lá somente o Congresso foi invadido e, como lá o armamento e whisky se compra em qualquer esquina, muitos utilizaram armas e, além dos prejuízos materiais, houveram mortes; enquanto cá, todos os poderes foram invadidos e somente constatei pela TV a utilização de porretes, espécie de pás, paus de bandeiras, pedras e peças, ou partes delas vandalizadas.
Assisti a esse lixo, em tempo real, pela CNN, Band News e Globo News. Grande contraste às celebrações: natalinas; de fim de ano; da posse com esse simbolismo da faixa sendo entregue por grupo representativo do povo brasileiro; e a do Dia de Reis. Mas, também, fui pasmado pela declaração na CNN, do Deputado Federal, pela sexta vez, pelo Paraná, Ricardo Barros, dando como justificativa a esse lixo, principalmente, o arbítrio do Presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, em impor a confiabilidade nas urnas eletrônicas. Ou seja, a ele e, muito provavelmente, a todas as outras lideranças que importaram o roteiro Trump, não importou que nem mesmo a fiscalização completamente indevida das Forças Armadas, permitida pelo infeliz convite do STF, fiscalização totalmente parcial, comandada pelo Ministro da Defesa, e a serviço do ex-presidente Bolsonaro, não conseguiu achar pelo menos um “pelo no ovo”.
Como Ricardo Barros pertence ao PP, uma das três siglas que mais tiveram no poder, portanto as mais envolvidas em corrupção, resolvi fazer uma rápida pesquisa para encontrar alguns prováveis envolvimentos. Extraídos dos sítios: globo.com; poder360.com.br; e brasildefato.com.br: segundo denúncia do MP do Paraná em 2015 – envolvimento em corrupção em licitação de publicidade na prefeitura de Maringá, quando o prefeito era o irmão Sílvio Barros, também do PP – Partido Progressista; segundo denúncia do MP do Paraná: lavagem de dinheiro e recebimento de propina quando, como Secretário de Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul do Paraná, geriu a compra de duas empresas de energia eólica da Galvão Engenharia, pela Copel (Companhia Paranaense de Energia).. As propinas teriam sido pagas por meio da campanha eleitoral de 2014. Assim, Barros foi denunciado também por tráfico de influência e falsidade ideológica eleitoral, segundo a denúncia do MP-PR. Pelo envolvimento com a eleição, o caso passou a ser investigado pela Promotoria de Justiça Eleitoral; em depoimento na CPI da COVID, o Deputado Federal Luís Miranda (DEM – DF) com base em denúncias de seu irmão, Luis Ricardo, que era chefe do setor de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, afirmou que o nome citado pelo, então, presidente Bolsonaro, como responsável pelo esquema para compra da vacina indiana Covaxin, com preço superfaturado, foi o dele, o do deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Abandona-se esse parêntesis, inserido na crônica como reação e indignação à declaração do deputado, mas também como ilustração a ser utilizada a pedido-cobrança a governo defensor da democracia.
Opino que, assim como Bolsonaro estava interessado que grande baderna acontecesse, para que pudesse justificar um golpe pelas Forças Armadas e o mantivesse no comando nacional (coisa que nunca mereceu crédito pois, mesmo que a confiança, que a maioria deposita nas Forças Armadas, como instituição de Estado e constitucionalista, fosse quebrada e voltassem a cometer os erros golpistas, o comando nacional não seria dado a um capitão, generosamente poupado de expulsão por gravíssima indisciplina, substituída pelo equivalente à aposentadoria ao meio civil), também, o atual governo estaria interessado que a suposição de, apesar de muito bem alicerçada, essa minoria representativa do populismo bolsonarista, fosse criminosa, se revelasse de fato. Somente dessa forma, em conformidade com a lei, poderiam ser devidamente tratados. Confesso que, tenho dúvidas quanto a que, acompanhando a perplexidade desses horrores cometidos, um sentimento, pela engenharia política do lulismo, de ter sido premiado. Agora a democracia tem grande espaço para se fortalecer.
Aplausos de reconhecimento à articulação junto aos outros poderes, para agirem em conjunto e às primeiras e precisas respostas dadas aos criminosos que, de fato, simbolicamente, tomaram os poderes republicanos, numa aventura golpista de fim de semana, mas há muito desejada, anunciada e agitada, pela propaganda criminosa, mas muito eficaz, bolsonarista. Afastamento do Governador do DF por três meses, a vice assume; intervenção federal na Secretaria de Segurança do DF; expulsão dos invasores dos prédios dos Três Poderes; prisão de quase trezentos criminosos travestidos de patriotas; investigações para chegar aos líderes mentores e financiadores do crime, covardes por sinal, que enquanto seus comandados executavam a ação criminosa, gozavam os prazeres dos finais de semana. Além disso, amplo cenário justificativo para investigações nas estruturas funcionais de Estado.
Espera-se que essa minoria criminosa, principalmente os mentores, as lideranças que por omissão, ou ação agrediram violentamente a democracia sejam identificados, provada suas responsabilidades, julgados e condenados exemplarmente, numa ação conjunta e coordenada dos poderes nacionais com uma eficácia não comum à gestão da coisa pública.
No exercício de cidadania, cabe a observação que existem outras minorias muito bem organizadas, que enfraquecem e destroem a democracia. Minorias também criminosas: o poderoso e bem armado crime organizado: contrabando; tráfico; milícias; garimpo, extração mineral e vegetal ilegal; grilagem de terras; e a poderosa e bem protegida corrupção.
Os prejuízos à democracia, ao estado de direito democrático e ao patrimônio social e material, causados à nação, por essas outras minorias criminosas, podem até não ter o mesmo impacto emocional, causado pela depredação dos prédios dos poderes nacionais, mas tem tanta, senão maior, ação corrosiva.
Assim, no exercício de cidadania, na convicção de que, assim como muitos confiantes nesse governo de ampla frente pela democracia, espera-se que os poderes nacionais ajam, também, em conjunto e com eficácia, para reduzir o vandalismo à nação causado por essas outras minorias criminosas, mesmo que seja exigido vencer o corporativismo e prender alguns de seus próprios pares.