A Faixa Real

Quando o ano de 2020 terminou eu desejava ardentemente recomeçá-lo, passar um corretivo sobre ele e reescrevê-lo. Impossível, o tempo não retrocede, apenas nos fornece as ferramentas necessárias para recomeçar e fazer melhor. Então é isso, esperamos por essa oportunidade e agora a temos, pois o número 39, que é mágico, traz consigo uma carga humanitária de quem se doa em prol de outrem e neste momento, muito mais que política, precisamos disso; respeito pelos outros, empatia, apreço, acima de tudo, pacificação. Essa é a faixa 39 de uma nação que delega a um humano o poder de fazer o melhor possível.

Pela primeira vez me emocionei diante de um ato político tão banal quanto aquele de ver o povo, o povão, representando o quinto maior país do mundo. De mãos dadas como nunca deveria ter sido diferente, com sua imensa diversidade como só a humana sabe ser.

A faixa foi colocada, com as cores padrão da bandeira nacional, também resgatada agora, após longos quatro anos de sequestro. Não é uma faixa de miss, não é uma faixa para quem venceu uma disputa, é o ícone máximo da responsabilidade social que simboliza a expectativa de uma gigantesca parcela da população. Uma catadora de recicláveis a teve nas mãos. Mãos habituadas a revirar lixo em prol da sobrevivência, que tiveram a honra de colocar nos ombros de um homem comum a esperança de uma nação. Como se cada cidadão brasileiro a tivesse recebido também, sentindo-se representado neste ato simbólico.

Há uma parcela da população inconformada com a trajetória da faixa, outros que estavam à margem, agora sentem-se expectantes, muitos torcem para que tudo dê certo, incentivam, encoragem, como as galeras nos jogos de futebol.

Exatamente essa faixa representa humanidade, por causa dela o velório de um rei foi adiado e, até certo ponto, perdeu a importância. O rei se foi, seus súditos não. Ela, a faixa da esperança, ficou para nos trazer alento.