MÚSICA DE MINHA IMPLICÂNCIA

A música Do fundo da grota me persegue por todos os lugares onde ando. Parece

encosto, dada a minha implicância com ela e a fanhozice do seu principal intérprete.

Mas como sou obrigado a ouvir essa pérola da música gaudéria em todos os cantos que

habito e convivo, me disponho a conviver de forma pacífica.

Quando eu morava em Blumenau, costumava sintonizar a Menina FM, que tinha

um programa de música gaúcha nos fins de tarde e domingos de manhã. Todo santo dia

tocava Do fundo da grota... Aí eu podia desligar o rádio ou mudar de estação. Tudo zen.

Fui parar no interior de São Paulo pelo que eu acreditei que fosse amor. O que o

vizinho dos fundos escutava em alto e bom som? 

Do fundo da grota, é claro. Aí não dava pra pedir pra trocar a música ou desligar

o vizinho.

Por força de circunstâncias, voltei a morar na minha cidade de origem. O que

ouço nas rádios, na voz de seu intérprete e das quinhentas regravações e versões?

Não responda, por favor!

Só falta a versão funk, mas acho que os “gaúchos de raiz” não iam gostar da

ideia.

O que me leva a pensar ou perceber que algum mérito esse cantor chamado

Baitaca deve possuir. Mas o que é uma baitaca ou um baitaca afinal? É bicho? É de

comer? Um trocadilho de duplo sentido? Socorram minha ignorância no assunto!

Dadas essas circunstâncias, tenho ouvido Do fundo da grota em pelo menos um

período do meu dia. Até por que atualmente moro com meu pai, ele é o dono da casa e

do rádio.

Por que minha implicância com essa música? Poderia ter substituído mijá

perto das casa por algo mais sutil. Sem mencionar a outra música do cantor, que fala

das aventuras de um tal de Tico, num humorismo pra lá de chulo, uma vez que este é

um dos apelidos do órgão sexual masculino.

Mas isso, é claro, é opinião pessoal.

Na verdade, na interpretação do tal Baitaca nunca entendi nem metade da letra.

Foi preciso outros cantores regravaram novecentas e trinta e oito vezes a música com a

qual impliquei para que ela fosse traduzida para uma linguagem mais audível. Mas

talvez o chato aqui seja eu, ousando complicar com uma música que todo mundo pede e

cantarola

O que sei é que vou acabar acostumando e quem sabe até aceitando a música de

minha implicância, por que ela virou xodó nos pagos gaúchos e fora deles. 

Portanto, vida e sucesso ao cantor de apelido esquisito e voz um tanto quanto

sofrível! Quem vem de origem humilde e consegue conquistar seu espaço no mundo da

fama merece, se não o meu apreço irrestrito, ao menos o meu respeito.