O Golpe dos Babacas e Bois de Piranha
Meninos, eu vi! E só vi porque vivi o suficiente para ver...
Eu vi um sujeito, que toda a sua vida foi reconhecido como destrambelhado, frustrado oficial do Exército, um verdadeiro pária parlamentar – 28 anos como vereador e deputado federal sem quase nenhum projeto apresentado, mas sempre aumentando os seus polpudos rendimentos mensais com a cínica prática da indecente “rachadinha”...
Eu vi o tal sujeito, em dado momento desta malfadada nação tupiniquim, tornando público e notório o seu danado ego de complexos, frustrações e sentimentos inferiores, em que predominavam o machismo, o racismo, a homofobia, o gosto pelo autoritarismo e o nazismo. Em vez desse sujeito ser execrado como porta-voz do diabo, seus seguidores aumentaram de número, porque o Mal é muito mais contagioso que o Bem, e o Poço da Lama costuma não ter fundo...
Por isso eu vi que, em outro dado momento, milhões de lorpas e pascácios “acharam” que os horrorosos custos do seu mau-caráter poderiam ser inferiores aos benefícios de uma suposta postura anticorrupção e assim – quando chegou uma eleição - o elegeram como um salvador da pátria...
E o que eu vi? Por Deus e todos os diabos do mundo, eu vi o sujeito atropelando pandemia, compaixão, solidariedade, ética e civilidade, refestelando-se na cadeira de Presidente e jurando nunca mais sair de lá...
O sujeito não era nenhum Trump, mas não era bobo. Pelo contrário. Terminado o mandato, ele contou os seus seguidores, adeptos, admiradores e adoradores. Ainda era muita gente. Muita gente para gritar, espernear, apanhar da polícia, levar tiros de borracha, se entupir de gás lacrimogêneo, quebrar, destruir, levar a culpa, etc... Então, berrou feio: que lhe tinham roubado as eleições, que o pau iria quebrar, etc, etc. E armou o circo...
Já antes de oficialmente terminar o seu mandato, acampamentos de “patriotas” se formaram em frente aos quartéis do Exército (em que pediam que os militares decretassem um golpe), caminhões eram estocados em Brasília, ônibus eram agendados para lá. Havia um objetivo nunca oficialmente revelado: atacar o Planalto, STF e Congresso, derrubar torres elétricas, atacar refinarias, impedir a circulação da gasolina, o transporte de mercadorias, o tráfego nas estradas federais. Seria o caos. O Exército seria obrigado a intervir, decretar-se-ia o estado de sítio, suspensão das garantias institucionais, etc. Intervenção militar igual 1964? Provavelmente...
Então, o patriota-mor entregou o Governo e foi embora para a Flórida, por sinal, o estado americano que mais deu votos ao Trump. E no domingo, dia 8 de janeiro, o pau quebrou em Brasília. “Patriotas”, hoje interpretados pelas autoridades pura e simplesmente como terroristas, invadiram os prédios do Palácio do Planalto (residência oficial do presidente Lula), STF e Congresso, quebraram e depredaram que puderam.
E finalmente eu vi que só fizeram isso porque eram babacas e bois de picanha.
Por quê? Elementar, meu caro Watson. Babacas, porque ninguém lhes garantia que, em caso de golpe, o poder ditatorial seria conferido ao controvertido capitão. “Bois de piranha”, porque agora seguem presos e devem amargar uma reclusão por um bom tempo, enquanto o “Mito” palita os dentes nos luxuosos e refinados restaurantes da Flórida.