ROUPAS NO VARAL

Todo sábado me chega uma lembrança de uma cena bem doméstica e familiar, mamãe chegava nos quartos e saia recolhendo os lençóis das camas.

Eu me recordo bem, que fingia estar dormindo, mas, pouco adiantava, ela vinha determinada a recolher o meu lençol, e puxava mesmo, eu me contorcia na cama, feito um malabarista se equilibrando na corda bamba, do circo.

Ligeira ela retirava aquele lençol, e saia dali em busca de mais roupas para lavar.

Que cena engraçada, eu ficava calado e incomodado com aquilo, eu tinha o meu ninho remexido, e mamãe retirava aquele meu escudo de pano, que me protegia do mundo lá fora, que já estava acordado.

Dali, mamãe, ia até a lavanderia de nossa casa, na área externa no quintal, munida de pedaços de sabão água sanitária, anil, e uma pequena escova de dentes de nylon, ela iniciava a sua batalha dos sábados, contra a sujeira das roupas e dos lençóis.

A torneira era uma orquestra desafinada, fazia um tremendo barulho, derramando a água.

E numa bacia grande de alumínio, ela depositava as roupas e os lençóis já lavados, mamãe parecia estar no meio de uma festa, num salão de baile, cantarolava as suas canções, ao som da caída da água e do esfrega, esfrega do sabão de pedra nas roupas sujas.

Por fim tudo ficava limpinho, alvo como uma nuvem passageira no céu. E da janela do meu quarto, eu via as roupas e o meu lençol dependurado no varal, feito os livros de cordel que um dia eu iria escrever!