______________________Alma Cigana

 

 

Ao lado da escola onde eu estudava, havia um amplo terreno baldio. Era ali que os ciganos costumavam acampar. Depois da aula, a meninada corria para espiar a vida daquele povo tão cheio de novidades. As mulheres morenas, de cabelos escuros, trajes longos e coloridos, badulaques e dentes de ouro me encantavam. Rapidamente, os ciganos se espalhavam pela cidade. As mulheres liam sorte; os homens negociavam com cavalos e peças de cobre. Muitas vezes, eram vistos com desconfiança e recebidos com reservas.

 

 Certa vez, houve um casamento na tribo. Foram três dias de muita festa: rituais, comidas, danças e cantorias, tudo franqueado aos olhos curiosos da população local. Foi quando vi pela primeira vez a apresentação de uma dança cigana. Com exímios movimentos, a dançarina volteava braços e mãos, agitando as bordas da saia comprida e estampada. Nunca mais  esqueci aquela cena.

 

De natureza nômade, os ciganos não ficavam por muito tempo. Sem qualquer aviso, desmanchavam as tendas, juntavam seus pertences e seguiam caminho. Às vezes, desconfio que minha alma é assim meio cigana: alimentada por sentimentos passageiros, ela não se demora muito em lugar nenhum. Dependendo do vento, também levanta tenda e vai passear.

 

 

Tema da Semana: Sentimentos passageiros (crònica)