Pra onde eu vou a vida vai ou: Storytelling é só fofoca com nome bonito?

Antes de propriamente começar, vou dizer um negócio aqui: você aí, vocêzinho ou inha, se equivoca em dizer que escritor é fofoqueiro, tá? Esses dias eu ouvi uma fofoca, mas uma dessas bem reviravoltantes, bem cheia de sobedesce, de coisas de deixar cabelo-em-pé, mas aí no final, no final eu só respondi com um

"É Complicado"

Tá bom, não vou dizer que não escuto de rabo de ouvido, assim vez ou outra, quem traiu quem com quem numa conversa mal dizida de meio de ônibus e coisa e tal. Mas eu percebi que a minha cabeça é que nem uma esponja, sou capaz de ficar ruim por meses apenas porque uma historinha me bateu mal. Sério. Absorvo, tomo as dores, fico pensando e lá se vai.

Ainda sobre as quinquilharias do cotidiano, tenho que dizer que outro terror de quem escreve é o de contar. Há sempre uma preocupação na construção, no clímax, no preservar das sensações. Mas aí eu te falo: nunca vi melhor contadora de histórias que minha vó, são sempre as mesmas, mas eu adoro. Deve ser um dom inato, não sei se eu tenho.

Nessa toada, me livrei dos noticiários televisivos, dos jornais e de qualquer coisa que pudesse não cair tão bem como caí o café matinal. Parei de escrever, lia só o que me vinha sem esforço. As vezes pensar toda hora sobre qualquer coisa cansa, sabe? Mas os terrores e as maravilhas do cotidiano insistem em me cercar. Isso não durou um dia. Tava eu indo comprar sei lá o que no mercadinho da esquina, e aí tinham dois veios conversando.

(Um olha pro outro)

(Aponta pra rua)

VEIO UM

Tá vendo ali ó, foi ali que o bicho passou, roubou foi todo mundo que 'tarra' na parada

VEIO DOIS

(de sobressalto)

Foi mermo?

VEIO UM

Foi, 'dissero' até que puxou uma arma.

Eu "me olho", olho pra onde ele apontou, pago, pego as compras apressado, e digo pra mim mesmo um:

"É Complicado"

A essa altura já havia desistido, começado a ler algo, escrever um poema. Não tem como fugir mesmo, sem mais, pra onde eu vou a vida vai. Não sabia o que ia acontecer daqui até em casa, mas já sabia que aquela conversa ia desmentir o que falei no início e ser vítima da minha doença crônica, virar anedota. Ok, lembrei do que realmente vim lembrar.

Loucura e mentiras.

Isso, quer dizer, tava relendo aquele de Drummond dos dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas, e fiquei assim, rebobinando. Vê se não faz sentido, tenho pra mim que qualquer que seja a estória, tem que ter ao menos uns 10% de mentirinha, e não me venha perguntar como cheguei nessa conta. (calma lá, não da mentira que desinforma, mas da que embonitece, floreia). Pra não dizer que tô só, Suassuna já disse uma vez que era fã da "mentira-arte".

Parando pra pensar, a maioria das minhas brincadeiras, invencionices, eram sozinho. E outra, sem essa de porradaria desenfreada entre os bonequinhos, havia sempre uma sequência lógica, um início meio e fim. Era capaz de passar horas assim, nessa fabricação. Vez ou outra alguém dizia que eu vivia no mundo da lua, nunca entendi. Ficava me imaginando indo pra lua, pensava que talvez quem sabe, tivesse algum parente que morava na lua, desses bem distantes e que nunca vem passar o natal junto. Já depois de grande que fui descobrir que pros antigos, havia uma correlação entre as doenças da mente e a lua, achavam que a rocha podia afetar nossa cachola, daí o termo "lunático". Ou seja, esse descolar da realidade, esse raciocínio torto está sempre cavando um embasamento, uma razão de ser.

"Invento e minto, pois sou poeta" ou "lunático, porcausa da Lua" "fracasso, pois não finjo" (Esse último vocês entendem Jajá) mas a verdade é que há mais coisas entre o céu e a terra do que dá pra escrever.

Pensei nisso tudo, porque cheguei a conclusão que, possivelmente, a mentira é mãe das boas histórias, mas também das relações. Tava conversando com pai e ele disse que não era assim, que eu não devia deixar tão na cara quando gostasse de alguém. "Faz parte do jogo, da graça."

"Que jogo? Que graça?" Pensei

"Você tem que fazer um suspensinho, fazer de conta que não quer" Falou.

Eu fiquei matutando. Pra mim não fazia sentido, ainda não faz. E é curioso que mistério dos outros é fácil de resolver, de escrever, relatar, mas o meu, essas nuances das coisas e arcos mal escritos, ainda continuam sendo um grande...

"É complicado"