Cara a cara – Juízo final
Um dia vai parar o tempo, no exato momento em que a sua consciência vai lhe condenar e aí vai perceber que tudo passou tão rápido e que o tempo foi o seu maior inimigo. Vai verificar que estará só e que ninguém, absolutamente, irá se sensibilizar com a sua situação. De nada adiantará o remorso, o arrependimento, o que passou não volta mais.
Não poderá mudar mais nada e a solidão que lhe acompanha irá lhe deixar louco. Não haverá mais tempo para reconstruir, recomeçar e esse será o maior dos sofrimentos: não ter a quem possa recorrer e fazer. E a paz sumirá com o vento que leva tudo, varrendo toda felicidade e ficará cara a cara com a saudade.
Não há nada pior do que a dor que invade a alma e retira toda a paz, deixando um mar de melancolias, amarguras e lágrimas. Lágrimas que banham a minha face cansada, com marcas da vida que enfeiam, envergonham, humilham. Ah quem me dera fosse uma pedra, que não tem vida, sentimento, saudades e não sente dor!
Ah quem me dera fosse o vento que vai e volta com velocidade, cada vez mais rebelde, mais forte, mais altaneiro, mais oponente e não guardando nem lembranças e nem sonhos. As suas vozes gritam desesperadamente pelo ar e não param de gritar e ninguém ouve suas lamentações. Ah bendito vento que traz a chuva que molha a minha esperança.
É o momento mais difícil (de mim comigo mesmo) e confesso, tive pena do Eu lírico que se sente frágil, inseguro, incapaz e quando olha para trás, percebe que o tempo não parou e perdeu mais preciosos segundos se martirizando. A vida continuou e as lembranças não se apagaram. As cicatrizes permaneceram e as marcas da face se proliferaram. É cruel quando chega o momento mais crucial da existência: o fim.
É o juízo final que elevará ou condenará, mas não lhe poupará e nem lhe isentará dos seus sofrimentos. É o encontro consigo mesmo, com sua alma, a qual, em algum momento, vai cobrar seu espaço e você, um mero ser terreno, um simples humano, verá que tudo não passou de um estágio ou de uma experiência de trabalho.
Seu tempo venceu e agora terá que voltar para o começo, de onde saiu, a origem da alma e nesse plano, vei rever os entes queridos que partiram e não sabe se poderá conviver com eles, pois cada um estará num grau de evolução. Mais uma vez, poderá estar sozinho e tudo aquilo que adquiriu materialmente, nada mais significará, e que estará pobre, sem um vintém para ajudar.
É nessa hora que as boas ações feitas na terra o salvará, pois só o que fez de bom e de bem, vai alimentar e o que acumulou de caridade vai lhe credenciar a viver num plano melhor. Onde não existe a ganância, a maldade, o ódio, a vaidade, o conflito, a discórdia, mas, sim, apenas o amor que unirá todas as almas, numa mesma sintonia, energia, em elevado estado de vibração.
Quando se chega de sua miserável existência na terra, fica perdido, isolado e sem saber para onde ir. É nesse momento, que se é amparado pelas mãos divinas, Uma falange de anjos vem ao encontro e nos conduz para as esferas superiores ou almas errantes que nos levam para o abismo umbralino.
Quando a alma se desvencilha da terra, alça vôo às mais distantes dimensões. Novos planos, encarnações, mundos, missões serão traçadas e tudo acontece em conformidade com o seu merecimento. O que você fez bom e o que você deixou de bom na terra. É nessa fase que ficamos a cara a cara com o eu lírico e às vezes, não conseguimos olhar tamanha imperfeição adquirida.
Que sua existência não tenha sido em vão e que você tenha tido o privilégio de semear uma semente. Que essa semente cresça, dê bons frutos e alimente a quem mais precise. Que você seja coroado pela sua teimosia e nunca deixe de acreditar em si e no ser humano. Viva a vida com prazer e seja grato em todos os dias por poder contemplar o sol, que nasce reinante e fascinante, mesmo nas manhãs nubladas.
Na visão do poeta, o juízo final é o de prestar as contas e reflexão. Não seja duro consigo mesmo, liberte seus sentimentos e provoque sua alma, para que saia à luta e nunca desista. Lembre-se: existe uma força maior que nos rege e basta você acreditar.