🔵 Casa Maluca

Eu sou tímido o suficiente para odiar “participar” de um espetáculo de auditório — daquele tipo que seleciona um “voluntário” para pagar mico e concentrar os risos e gargalhadas armazenados. Minha constatação prévia: alguém da plateia será capturado para bancar o panaca, enquanto o “Zé Graça” sai como o “bonzão”.

Como perdido do bando, desgarrado e atraído, resolvi entrar naquele “brinquedo” misterioso e sem fila. No Hopi Hari, era raro encontrar uma atração que não combinasse altura, velocidade e longas filas. Pois bem, curioso, adentrei o recinto.

Olhando, a casa é totalmente torta e tudo parece na iminência de um acidente. O apresentador, treinado para ser um animador, animadamente me chamou para desafiar a gravidade na Casa Maluca. Sucesso. Sem sequelas.

O apresentador emendou outro truque da magnífica residência. Eu já estava menos assombrado com o público olhando fixamente para mim. A sensação de que todos esperavam o meu erro já havia passado, isso hipertrofiou a minha confiança.

Fui convidado à mesa de bilhar. Esquecendo-me que estava na ‘Casa Maluca’ e que algo incrível estava para acontecer, tentei fazer o que sabia: mirei a caçapa do canto direito, golpeei a bola branca, a bola branca pulou e empurrou a bola que sumiria na caçapa e...

As três bolas escorreram para a caçapa contrária e, como num sumidouro, foram embora, frustrando as expectativas de uma audiência atenta. Pronto, eu acabava de arruinar a brincadeira. Com a impossibilidade de me assassinar, o animador esboçou um sorriso e se esforçou para puxar uma salva de palmas para mim. Eu fui brindado com aplausos esparsos e sem empolgação. Nessas alturas, já havia desistido de reivindicar o meu prêmio.

Embora eu tenha desvendado as leis da física, bancando o Mister M, não me orgulhei daquele papelão. É claro que agora eu sei que fui selecionado para participar daquela farsa e interpretar a palhaçada toda. Era esse o papel esperado na ‘Casa Maluca’: causar a ilusão de que ali dentro a Lei da Gravidade fora revogada.

Eu já havia me livrado da “atração”. Entretanto, aquela aventura jamais foi esquecida, de modo que eu saí da’Casa Maluca’, porém a ‘Casa Maluca’ nunca abandonou a minha mente. Depois que atravessei aquela porta, nunca mais fui o mesmo: Será que a casa era maluca ou eu era o maluco?

RRRafael
Enviado por RRRafael em 07/01/2023
Código do texto: T7688897
Classificação de conteúdo: seguro