LEMBRANÇAS DO NOSSO REISADO

O reisado, que também é uma das múltiplas manifestações folclóricas que compõem nosso espaço cultural, teve origem nas festas portuguesas, e aqui em meu lugar se celebra e se festejava ativa e principalmente, até hoje, no dia 6 de janeiro, Dia dos Santos Reis.

Como sabemos, reisado é uma dança tradicional que consiste na adaptação coreográfica de romances e saudosas cantigas populares, com versos religiosos e também humorísticos, em louvor dos Reis Magos, e, por isso, é executada por grupos que cantam e dançam, sobretudo na véspera e no Dia de Reis, 6 de janeiro, tendo como acompanhamento instrumental, uma sanfona ou harmônica, zabumba etc., que animam/alegram as toadas dos reisados.

Convém esclarecer que este folguedo tradicional e de grande aceitação popular, e que, na realidade, também faz parte da nossa cultura, encontra-se, hoje, praticamente desaparecido e relegado ao esquecimento, em virtude de alguns fatores, entre os quais podemos citar: a falta de incentivo e principalmente a inexistência de interesse e de empenho das gerações mais jovens; e também as próprias vicissitudes que o tempo inevitavelmente proporciona às sociedades humanas.

O reisado do meu bairro era composto por um tocador de sanfona, ou harmônica, três caretas, grupos de galantes, damas, o lacaio, a burrinha... E o chamado “Boi do Reis”, que era representado de um modo geral por uma armação leve, pouco pesada, e recoberta de pano colorido e animada brilhantemente por um homem ágil que fica ali em seu bojo durante a apresentação.

Quero lembrar, inclusive, que o meu pai, que era agropecuarista, também foi por certo tempo, nas horas vagas e de descanso, ou em fins de semana, um dos integrantes do grupo de reisado do bairro, na condição de tocador de harmônica, uma pequena sanfona de oito baixos, instrumento este também chamado aqui, de sanfona pé de bode. Aliás, todos os componentes do nosso reisado eram membros da nossa extensa e tradicional família.

Na verdade, desde criança, eu tive a oportunidade e o prazer de assistir a várias apresentações do nosso grupo de Reisado, aqui mesmo no meu bairro, em várias casas, naquelas alegres e saudosas noites folclóricas do passado; e principalmente nas inesquecíveis e saudosas noites, na chamada Noite de Reis, assim como no Dia de Reis. Desde então pude verificar e constatar in loco a beleza e a importância das manifestações culturais de um povo, sobretudo quando dotadas e impregnadas de originalidade e/ou autenticidade, numa consonância quase indescritível.

Numa noite dos meados da década de 70, o nosso Reisado fez uma bela e memorável apresentação também no Campus Avançados/Projeto Rondon, lá no bairro Junco, para o encanto e admiração dos universitários e universitárias goianas integrantes do Projeto Rondon, em Picos-PI. Lembro também que não paravam de fotografar, a todo instante tiravam fotos do Reisado; o flash das máquinas fotográficas misturava-se à luminosidade ambiental e ao brilho do Reisado. E eu estava lá em meio ao público assistindo àquele animado e belo espetáculo.

E no centro de Picos, em dezembro de 1990, durante as festividades comemorativas do centenário da cidade, o nosso Reisado, sob os aplausos do público presente, fez uma brilhante e inesquecível apresentação. E em julho de 1992 na Semana Cultural de Santa Cruz do Piauí; e em Teresina, capital do estado, em meados da década de 1990.

Convém esclarecer aqui, que é de capital importância a preservação da nossa cultura popular. Para isso, necessitamos do empenho e da colaboração de todos, para que possamos manter e perpetuar a história do nosso povo.

Picos, 24 de maio de 2000.

Edimar Luz

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 06/01/2023
Reeditado em 06/01/2023
Código do texto: T7688464
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