Um afago do Rei Pelé
Ouvindo as notícias sobre a morte do Rei Pelé, me voltaram às lembranças um acontecimento que marcou minha história. Vou contar o fato, ocorrido no dia 15/11/60, data em que o Santos Futebol Clube foi jogar no Estádio Olímpico Pedro Ludovico, que ficava na Avenida Paranaíba, em Goiânia. Na época eu estava no auge dos meus 12 anos de idade e meu irmão José Cardoso tinha então 10 ou 11, não sei ao certo.
Morávamos no Setor Aeroporto, bairro que fazia divisa com o estádio. Lembro-me que sempre pulávamos o muro para assistir aos jogos que ali eram realizados. Tínhamos uma artimanha para enganar o vigia. Ficávamos um distante do outro, mas pulávamos junto com os outros garotos. O vigia só conseguia pegar um dos atrevidos invasores. Assim fazíamos, quantas vezes fosse necessário, até que pudéssemos assistir as partidas. Não ficávamos nas arquibancadas e sim à beira do campo. Vips que éramos, claro!
Creio que nunca vou me esquecer daquele dia, agora tão distante. Mais ainda com a perda do nosso Rei.
Me lembro com clareza daquele dia por dois motivos bem significativos para mim.
Na época, o ponta esquerda do Santos era o Pepe, que estava com a corda toda. Me parece até que era mais badalado do que o próprio Pelé. Naquela tarde ele acertou um chute que bateu na trave, que era de madeira. A bola foi chutada e bateu na trave com tanta força que ainda balança em minha memória. Confesso que fiquei maravilhado.
O outro motivo, este sim, tem a participação do próprio Rei Pelé.
Como disse, ficávamos à beira do campo, mas quando os jogadores iam passar para entrar em campo, corríamos para vê-los mais de perto. Naquele dia nós só conseguimos entrar no estádio no final do primeiro tempo, por isso, corremos para a saída do gramado. Me lembro que não existia um túnel. A entrada era marcada por duas muretas de aproximadamente um metro de altura. Ficamos ali eu, meu irmão José Cardoso e um amigo, de nome Roberto, filho do barbeiro de nossa rua. Estávamos um ao lado do outro, na seguinte formação: eu, o José e o Roberto. Lembro-me bem que o Pelé passou por mim, na sequência passou a mão na cabeça do José. Nisso o Roberto, que era meio gaiato, disse: "seu cabelo vai ficar igual ao dele". Rimos! Naquela ocasião não compreendíamos o quão preconceituosa havia sido a brincadeira e, menos ainda, a seriedade do assunto. Eram outros tempos. Não tínhamos acesso a tantas informações e esclarecimentos, como se tem hoje e assim, continuamos assistindo a partida de futebol, felizes da vida!
Não podíamos imaginar sequer que aquele gesto havia sido feito por aquele homem e gênio do futebol, que se tornaria tão importante para o nosso país e para o mundo.
Não sei se meu irmão e o Roberto ainda se lembram desse acontecimento. Ele permanece na minha memória como se fosse ontem. Do Roberto não tenho notícias. Vou perguntar para o meu irmão se ele ainda se lembra deste acontecimento.
Segundo a pesquisa que fiz, os jogadores do Santos naquele dia eram: Gylmar; Lima (Carlos Alberto Torres), Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio (Clodoaldo); Dorval, Coutinho (Toninho Guerreiro), Pelé e Pepe (Edu). Técnicos: Lula e Antoninho.