A COMPATIBILIZAÇÃO DOS EVENTOS DA VIDA ("O que é distinto não o pode ser por sí só, só o é por meio da distinção". — Isaac da Conceição)
No meio das complexidades da existência, percebo que não há dois caminhos à nossa frente, mas um só, e nossa escolha consiste em um estado de espírito: o da vida e o da morte. É como se o céu se revelasse quando estou bem e vivo o inferno quando estou mal. Embora pareçam se bifurcar, na verdade são interligados pelas circunstâncias que nos cercam. É como se o diabo, com suas artimanhas, criasse a ilusão de que esses caminhos são paralelos, mas, na verdade, eles se entrelaçam num jogo manipulado por Deus.
Cada momento vivido contém um pouco de vida e um pouco de morte, como uma dança entre essas duas realidades. É uma composição dual onde nada é em vão. Assim como uma semente de caju destinada a se tornar um cajueiro, há também em seu âmago a possibilidade de alimentar um mamoeiro. É a reutilização das substâncias da natureza, um ciclo contínuo e interligado.
A vida e a morte não são caminhos paralelos, assim como a luz e as trevas, o profano e o sagrado. Nada é absolutamente puro ou absoluto. Sempre há um pouco de luz nas trevas e um pouco de pecado na pureza. A vida traz consigo um resquício de morte, e a morte, por sua vez, traz consigo a promessa de um novo ciclo de vida. Tudo se entrelaça e se mistura, não existe uma totalidade.
Percebo que meu batismo é o da compatibilidade, pois as substâncias são compatíveis dependendo da dosagem. Existe um ponto de fusão entre esses dois mundos, onde as influências divinas agem, dando sentido a essa complexa teia da existência.
Ao refletir sobre essa experiência, compreendo a importância de aceitar as dualidades da vida e encontrar equilíbrio em meio a elas. Nada é simplesmente bom ou ruim, certo ou errado. Tudo possui nuances e é essencial enxergar além das aparências. Aprendo a valorizar cada momento da vida, sabendo que a morte está presente, e a enfrentar a morte com coragem, sabendo que a vida continua em outros ciclos.
Que possamos compreender a interconexão de tudo ao nosso redor e encontrar paz em meio às incertezas e contradições da existência. É nesse entendimento que reside a verdadeira sabedoria.