O banquinho do meu avô
“Esse banquinho tem mais de 20 anos”, disse a minha mãe. Perguntei como ela sabia e então ela me mostrou que, na parte de baixo do banquinho, havia a data 30/08/2000 e a assinatura do meu avô. Esse meu avô era marceneiro e fazia mesmo objetos variados de madeira a fim de facilitar a vida de seus familiares. O banquinho foi a solução que ofereceu a uma dificuldade que a minha mãe encontrou quando pela primeira vez fomos morar em um apartamento: o varal era alto demais e não dava para estender as roupas. Com o banquinho, porém, tudo se resolvia.
Essa obra do meu avô serviu durante os quatro anos que vivemos naquele apartamento. Mais tarde, viemos para Curitiba, e o banquinho veio junto. Aqui, já foram três apartamentos, e em todos o banquinho continuou sendo usado todos os dias, já que esses varais de apartamento são todos altos demais mesmo. Assim se passaram mais de 20 anos... Enquanto isso, meu avô já partiu há muito tempo – tinha já 70 anos quando decidiu fazer esse banquinho. Ele ainda vive de diferentes maneiras, e uma delas é quando subimos para estender roupa no varal.
Quisera eu que alguma obra minha fosse tão útil assim, quisera eu que uma única das minhas crônicas tivesse, como esse banquinho, uma utilização diária, uma serventia cotidiana, que ela passasse dos 20 anos sem ninguém perceber que teria passado tanto tempo assim, que o meu gesto de amor e bondade ao criá-la continuasse beneficiando quem eu quero bem muitos anos depois da minha morte. Tudo o que faço, porém, são palavras, não mais que palavras, então que eu ao menos escolha aquelas que melhor registrem o que permanece por mais tempo.