CANETA DO BOM GOSTO SÓ PRA QUEM TEM BOLSO
Aqui, confessando duas paixões, não passionais mas racionais: gosto muito de relógios e canetas.
Talvez porque, como gosto de escrever, junte o tempo, que é a inspiração dos escritores, com a caneta, que a seu tempo, é como o artista, o mensageiro que desenha as letras.
A marca de caneta em questão , polêmica da hora, é um sonho de consumo de muitos admiradores do objeto, principalmente aquelas que usam tinta.
A pena é algo que me encanta e até aquele ritual de molhar o bico, visto nos filmes antigos, é bem icônico.
É como a " pena que vale toda pena quando a alma não é pequena".
É algo cult, chique, clássico, de fato, uma caneta tinteiro é como poesia , digamos, se configurou no tempo como verso dos mais "nobres". Então, citei Fernando Pessoa tão citado nos últimos discursos...
Há muito , confesso, a famosa marca já foi meu sonho de consumo.
Eu parava para olhar...e só olhar.
Nunca tive coragem, e aqui de todo coração, eu penso que num país em que se vive com um salário mínimo tão curto, mesmo para os que podem mais, me parece uma falta de visão de mundo se gastar seis salários mínimos , ainda que parcelados, num objeto que a gente coloca no bolso e perde por aí.
Mesmo sendo alguém como eu, anônima, não obrigatoriamente formadora de opinião.
No meu caso, imagine, se já vivo a perder as chaves, os óculos e a caneta pelo trabalho...
Minha caneta , até há pouco, tinha que ser esferográfica mesmo, daquela de biquinho, bem baratinha, com o meu nome escrito no tubo transparente, principalmente quando se tinha que atender uma urgência hospitalar e tudo ficava no caminho, inclusive o estetoscópio.
E quantas vezes não se encontrava mais a caneta barata perdida.
Prejuízo, mesmo assim.
Curiosamente essa caneta do meu texto foi elaborada por algum estilista de extremo bom gosto, a alguém importante, comprador que a saberia apreciar com critério para presentear, inclusive admirar o requinte de seus detalhes em madrepérolas ( olhando de longe) e claro, não foi feita para qualquer bolso...mas para um extremo bom gosto.
Canetas aos reis do mundo. Merecidamente. Têm a responsabilidade compatível com o encanto das coroas.
Penso que, no dia em que todos tivermos , de fato, em condições de igualdade,talvez a população consiga comer, morar, se alfabetizar , aprender a contar, estudar além, pensar., trabalhar discernir ..e apurar os gostos para objetos perfeitos, ditos paradoxalmente "das elites", sonho de consumo dos que trabalham duro para sobreviver num local onde o trabalho já não elitiza ninguém.
São muitas as palavras e as grifes que, nos últimos tempos, destoam de todos os discursos e propósitos da verdadeira urgência das vidas que agonizam em meio a tanto déficit de dignidade humana.
A conta não fecha faz tempo.
Os que cuidam urgem, ao menos, pela sensatez do respeito às misérias disseminadas.
É uma obrigação das lideranças exercitar o bom senso: " posso, mas não devo".
Que consigamos, por enquanto, acreditar que tudo saia do discurso para o cumprimento das promessas de futuro ao pé da letras escritas na carta MAIOR: um ESTADO que visivelmente cuida das gentes.
Não importa a caneta com a qual se firme os propósitos.
Que nos seja uma bela História escrita para as próximas gerações, a que por ora dispensa totalmente a pompa da grife MontBlanc.
Às vezes eu sinto que Deus, com sua invisível caneta e nos detalhes...realmente escreve certo por linhas bem tortas.
E nos manda a mensagem a quem puder interpretar o texto...